Cynara Menezes
Movimento ciclista
08.03.2012 14:06
Adolf Hitler, responsável pela morte de 6 milhões de judeus na
Segunda Guerra Mundial, era um entusiasta do automóvel, todo mundo sabe.
Nunca se viu Hitler falando bem da bicicleta ou de ciclistas –tampouco
falando mal. Tanto é que havia companhias ciclistas no Exército alemão,
como muitos exércitos naquela época, e a própria SS tinha uma tropa
ciclista. Um grupo da juventude hitlerista cruzou a Grã-Bretanha inteira
em 1937, em um tour que foi visto como um ato de “espiciclismo”. Ou
seja, tudo indica que até os nazistas respeitavam a bicicleta como meio
de transporte.
Hitler chega a aparecer em um cartão postal posando simpaticamente ao
lado de ciclistas. Também Benito Mussolini aparece em duas fotos: numa,
pedalando uma bicicleta diferente, com guidão ao lado das pernas e roda
da frente menor. Na outra, passando em revista a tropa ciclista dos
lendários Bersaglieri, o corpo de elite do exército italiano conhecido
por se deslocar em bicicleta. Os Bersaglieri haviam adotado a bicicleta
no final do século 19, primeiro civis e depois fabricadas sob medida
para os militares: dobráveis e mais robustas. As fotos acompanham este
artigo, para quem quiser ver.
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Se fascistas e nazistas tinham lá sua admiração pelo ciclismo, o
mesmo não se pode dizer da atrasada direita brasileira. Desde a
manifestação que ocorreu em São Paulo na sexta-feira 2 de março em
protesto pela morte de uma ciclista, atropelada por um ônibus na Av.
Paulista, as agressões na internet não param. Pasme: não contra os
carros ou o trânsito desumano da cidade, mas contra os que desejam fazer
diferente e se deslocar em duas rodas. “Bikerdistas”, “fascibikers”,
“talibikers”: assim tem sido chamados os ciclistas que tentam alertar a
população de São Paulo para uma forma melhor de vida que não a ditadura
do automóvel.
Dentro de seus carros, a direita balofa bufa contra os ciclistas que
protestam, porque “param” o trânsito e “atrapalham” seu deslocamento
egoísta e insano. São os mesmos ignorantes que costumam buzinar para os
pobres coitados que puxam carroças com papelão pelas ruas de São Paulo
para sobreviver, como se fossem antepassados dos burros de carga. A cena
é comum na maior cidade da América do Sul. O homem puxa a carroça. O
carro atrás dele buzina e o xinga. Com as bicicletas é a mesma coisa –
quando não é a ameaça física de colocar o carro em cima e o
atropelamento fatal. Um misto de inveja e sadismo.
Na verdade, não mudam muito os alvos dos ataques. Quem pregar contra
os agrotóxicos e em favor dos orgânicos será atacado. Contra a ditadura
militar e em favor da comissão da verdade. Contra a homofobia. Contra o
higienismo. Contra a especulação imobiliária. Contra o racismo. Em favor
do Estado laico. Em favor do aborto. Contra a barbárie e em favor da
civilidade. Qualquer um com essas bandeiras será atacado pela direita
inculta e medieval que temos. Será chamado de “fascista” e “nazista”,
sendo que os agressores, eles sim, são piores que Hitler e Mussolini:
incitam o ódio, a intolerância e o atropelamento de ciclistas em via
pública.
Cuidado, criancinhas que andam de velocípede. Um dia a direita
brasileira irá lhes achincalhar.
Fonte: CARTACAPITAL
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