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sábado, 7 de abril de 2012

Paixão de Cristo à Cubana

No primeiro feriado de Sexta-feira Santa em mais de 50 anos, arcebispo pede reconciliação

RAFAEL ROLDÃO,
com agências internacionais
Publicado:
Atualizado:


Fiéis participam de procissão em Havana
Foto: AFP/STR - 06/04/2012

Fiéis participam de procissão em Havana AFP/STR - 06/04/2012
RIO E HAVANA — O primeiro feriado de Sexta-feira Santa em Cuba em mais de cinco décadas teve ruas vazias, como se esperava, mas igrejas não tão movimentadas quanto se previa. 
Ao mesmo tempo em que muitos, mesmo não católicos, comemoravam o dia livre do trabalho, outros pediam que a decisão do regime — atendendo a um pedido do Papa Bento XVI em sua recente visita à ilha — se repetisse nos próximos anos.
O feriado foi suprimido pelo regime cubano após a Revolução de 1959, que levou Fidel Castro ao poder. Quando anunciou, no fim de março, o restabelecimento da data como dia festivo, após uma solicitação pessoal de Bento XVI ao presidente Raúl Castro, o governo deixou claro, no entanto, que seria em caráter excepcional.
— Sem perdão, não pode haver relações interpessoais saudáveis, vida familiar, convivência social, nem relação entre os povos — disse o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, numa mensagem excepcionalmente retransmitida pela TV estatal.
Ortega tem papel importante neste princípio de entendimento entre a Igreja e um Estado que até há alguns anos era oficialmente ateísta. Foi ele que, em 2010, abriu o diálogo com o regime que culminou na libertação e expatriação de dezenas de presos políticos. Por isso, durante a mais de uma hora em que se dirigiu aos fiéis cubanos, Ortega fez questão de centrar sua mensagem de Páscoa na reconciliação.
— É necessário um reino de Justiça, paz, amor e liberdade. Quanto nos custa perdoar? — continuou Ortega, que antes da visita do Papa também fora autorizado a fazer um discurso na TV estatal.

Ativistas dizem que vigilância continua

A reconciliação pedida por Ortega caminha em Cuba, ainda que a passos curtos. O ativista católico Oswaldo Payá, Prêmio Sakharov de Direitos Humanos do Parlamento Europeu em 2002, fez ontem com a família o mesmo percurso que faz pelas igrejas de Havana toda Sexta-feira Santa. As pessoas, disse ao GLOBO por telefone, têm menos medo do que antes, mas não é possível mudar o ambiente subitamente.
Payá, de 60 anos, faz parte dos cerca de 10% de cubanos católicos praticantes — estima-se que entre 70% e 80% da população pratiquem religiões de origem africana, como a santeria. Durante anos, enfrentou um “ambiente de terror” para exercer sua fé e acredita que isso ainda impede que, em dias como a Sexta-feira Santa, mais pessoas vão à igreja.
— Nas igrejas, não havia diferença em relação aos anos anteriores. Há um pouco mais de tolerância, mas ainda há vigilância e ingerência nas igrejas. E o direito de se expressar, que é o mais importante, continua cerceado. Não se apaga de uma hora para outra décadas de repressão e perseguição — disse Payá.

Apesar da perseguição, a líder das Damas de Branco, Berta Soler, insistiu em ir à Catedral de Havana para acompanhar a mensagem de Jaime Ortega. Após o ato litúrgico, acompanhado por cerca de cem pessoas, muitas delas turistas, ela aproveitou para denunciar que o movimento que lidera, de mulheres de presos políticos, está “sendo intimidado” a não participar de missas.
— Vim para pedir a Deus que nos ilumine. Vamos continuar essa luta pacífica pela liberdade de pessoas queridas e também por uma nova Cuba — disse Berta.
Nas ruas de Havana, desertas pelo feriado escolar e laboral, o desejo de muitos era de que o recesso fosse mantido. Mesmo não católica, Miriam Rodríguez, uma aposentada de 62 anos, disse que isso seria o correto em respeito aos seguidores da religião. Já a ateia Gladys Ocampo, também moradora da capital, comemorou por não ter que trabalhar.
— Não sou católica, mas estou feliz com esse feriado. Não estava nos meus cálculos, e agora vou conseguir adiantar o trabalho em casa e cuidar dos meus filhos — comentou Gladys.
Houve celebrações similares à da Catedral de Havana em outras dez dioceses cubanas, também sem arrastar um público muito maior que nos anos anteriores. Para evitar o calor, a procissão de Via Crucis, a principal do dia, foi feita durante a noite. Procissões católicas também foram proibidas após a Revolução, mas acabaram liberadas novamente — junto com o Natal — após a visita do Papa João Paulo II, em 1998.

Papa: “Na crise, olha-se para Cristo”

Aparentando cansaço após duas viagens desgastantes — além de Cuba, visitou o México — o Papa Bento XVI participou ontem da tradicional procissão de Sexta-feira Santa, ao redor do Coliseu, em Roma, para recordar o martírio e a crucificação de Cristo. Diante das milhares de pessoas que, com velas nas mãos, o observavam, refletiu sobre família, divórcio, aborto e infidelidade.
— A situação de muitas famílias piorou com a ameaça do desemprego e outros efeitos negativos da crise econômica — afirmou o Papa. — Nos momentos de problemas, quando nossas famílias precisam enfrentar a dor e a adversidade, temos que olhar para a luz de Cristo. Ali podemos encontrar a coragem e a força para seguir adiante.
A procissão foi apenas um dos vários atos que o Papa tem pela frente na Semana Santa, uma das datas mais importantes para o catolicismo. Mais cedo, presidiu um ato litúrgico na Basílica de São Pedro. Na quinta-feira, numa dura mensagem a movimentos reformistas, deixou claro que não toleraria insubordinação entre os padres e pregou um “radicalismo da obediência”.

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