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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Memória do HOLOCAUSTO


Uma das salas do Memorial da Shoah, em Paris.
Uma das salas do Memorial da Shoah, em Paris.
AFP


O Memorial da Shoah, em Paris, um dos maiores centros de documentação da memória judaica do mundo, está constantemente a enriquecer os seus arquivos. Porque, com o passar das gerações, as famílias aceitam cada vez mais entregar aí os seus objetos.
Chegam pelo correio, sem indicação de endereço nem carta de acompanhamento, ou saem, ainda amarelecidos e amarrotados, de caixas de cartão esquecidas no sótão há várias décadas, são vendidos na Internet… Cerca de um milhão de documentos sobre o destino dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial são acrescentados, todos os anos, ao Memorial da Shoah, no bairro do Marais, em Paris.
Nem todos têm a dimensão histórica e mediática de algumas páginas datilografadas,recentemente tornadas públicas pelo Memorial, corrigidas pela mão dura de Pétain [chefe de Estado francês durante a ocupação nazi, de 11 de julho de 1940 a 20 de agosto de 1944]: o projeto de lei sobre o estatuto dos judeus, autenticado no começo de outubro [que estabelece o papel determinante do marechal na criação desse estatuto e, também, o seu antissemitismo – papel e antissemitismo durante muito tempo postos em causa em França]. Um após outro, esses documentos testemunham, em pormenor, o destino de centenas de milhares de famílias, vítimas dos nazis – uma das principais razões de ser do Memorial.
O percurso desses papéis e dessas fotografias, vendidos ou oferecidos, continua por vezes a ser um mistério e muitas vezes é acidentado. Em alguns casos, foi preciso a passagem de uma geração para as famílias ousarem depositar em arquivos públicos o seu passado, feito de dramas e, por vezes, manchado por um sentimento de vergonha.
"Hoje, estamos num ponto de viragem de gerações", explica Serge Klarsfeld, célebre advogado – que, com a mulher, seguiu o rasto de criminosos de guerra – e também vice-presidente do Memorial. "As últimas testemunhas estão a chegar ao fim da vida e voltam-se para o passado."

Arquivistas realizam campanhas de porta a porta

Este período-chave faz emergir numerosos documentos, objeto da atenção ativa dos arquivistas. Ao longo dos anos, Serge Klarsfeld acumulou uma apreciável quantidade de investigações e de publicações. Dos muitos armários do seu apartamento-museu, tira milhares de fotos de crianças deportadas, fruto de uma recolha persistente e dolorosa por todo o mundo.
Objetos fabricados nos campos de concentração, cartas, fotografias: o Memorial de Paris e os seus 80 membros recolhem tudo o que possa permitir às famílias reconstituir com precisão o percurso dos seus membros e aos investigadores escrever a História. Muitos destes lamentam, contudo, esta "privatização" de testemunhos que escapam aos arquivos nacionais.
Durante muito tempo, os vendedores de livros em segunda mão e os antiquários foram fontes prolixas e as limpezas de sótãos continuam a revelar numerosas descobertas. Mas os investigadores do Memorial – um dos três mais importantes centros mundiais de documentação sobre a Shoah, juntamente com o Yad Vashem e o centro federal de Washington – lançam igualmente mensagens publicitárias postais e publicam anúncios nos grandes jornais internacionais.
Os arquivistas chegam até a realizar campanhas porta a porta. "Fizemos isso recentemente em Drancy", conta Karen Taieb, que é há 17 anos a responsável pelos arquivos do Memorial. "Quando observámos o mapa, apercebemo-nos de que as casas não ficavam longe do campo. Procurávamos testemunhos orais e escritos."

Uma única foto da detenção massiva do Vél' d'Hiv

A História tornou-se igualmente um verdadeiro mercado e a Internet está cheia de peças de todos os géneros, que são comercializadas sobretudo através do eBay. Os colecionadores de selos, que colecionam envelopes, vendem o conteúdo destes neste site – cartas e postais que descrevem um momento do passado.
Neste novo mercado, os editais têm uma cotação alta: em muitos casos, é preciso pagar vários milhares de euros para os comprar. O Memorial, que gasta cerca de 200 mil euros por ano na recolha e restauro de documentos, conseguiu reunir bastantes. A busca parece um poço sem fundo.
Na "parede dos nomes", construída à entrada do Memorial, a lista das vítimas da Shoah está permanentemente a ser alterada: risca-se, acrescenta-se, corrige-se. Através desta proliferação, os investigadores da História estão sempre à espera de descobrir uma pepita, a foto ou o documento que vai esclarecer as consciências.
"Continuamos sem compreender por que motivo, ainda hoje, só há uma foto da detenção massiva do Vél' d'Hiv" [a maior destas detenções de judeus em França. Em 16 e 17 de julho de 1942, foram detidos e depois deportados pelas autoridades francesas 13 512 judeus – entre os quais 4051 crianças. Apenas sobreviveram 25 adultos], explica Jacques Fredj, diretor do Memorial. "Não é possível. Deve haver outras algures e nós continuamos a procurar!"

Fonte: PRESSEUROP C/ LE FIGARO

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