Um militante neonazi durante uma manifestação em Beroun, a sudoeste de Praga, em 2007.
Um mínimo de 22 anos de prisão por ter incendiado a
casa de uma família cigana: a pena pronunciada em 20 de outubro contra
quatro militantes neonazis checos é um exemplo a seguir para uma luta
eficaz contra a escalada da extrema-direita no país e no resto da
Europa, congratula-se a Respekt.
A transição do comunismo para a democracia ia ser uma grande
aventura: isso percebia-se já durante a revolução [a Revolução de
Veludo, em 1989]. Mas que essa aventura continuaria, ainda 20 anos
depois, era então bastante menos evidente. E no entanto, é o que se
passa. A título de exemplo, pode-se falar do caso dos neonazis, mais
conhecido pela denominação eufemística de “os incendiários de Vítkov”.
Não há muito a criticar na ação movida contra os quatro neonazis. O tribunal deu prova de uma atitude firme e justa.
Nos países ocidentais, quando um neonazi decide, no dia do aniversário
do nascimento de Adolfo Hitler [em abril de 2009], após uma preparação
meticulosa e em conjunto com outros neonazis, lançar durante a noite um
cocktail molotov pela janela da casa de uma família cigana, a sua ação é
qualificada de crime racista (ou de tentativa de assassínio) e muito
severamente punida pela justiça.
Um veredito tranquilizador
Se ainda por cima as vítimas são crianças, que não representam
qualquer ameaça e não estão em condições de se defender, deve ser ditada
uma pena exemplar. É realmente tranquilizante constatar que o
magistrado checo teve esta interpretação. Através das penas de prisão
pronunciadas contra os criminosos neonazis (22 anos para três deles, 20
anos para o quarto), o Estado checo demonstrou que não tolera de todo
tais atuações. E isso é o essencial.
A questão que se coloca é, evidentemente, saber que consequências
terá este julgamento no movimento neonazi checo. A República Checa não
conhece o fenómeno de simpatias pró-neonazis entre os polícias, que se
traduziu em certos países da Europa Ocidental (como a Alemanha) por uma
indulgência da corporação em relação aos movimentos de extrema-direita.
Uma linha política dura contra os neonazis
O Estado checo adotou com bastante celeridade uma linha política dura, como testemunha a legítima proibição do Partido Operário,
que está ligado ao movimento neonazi. Por um lado, as penas excecionais
pronunciadas contra os racistas de Vítkov poderão desencorajar muitos
de cometer este tipo de crimes; por outro, pode-se temer que estas
condenações sirvam para alguns de fermento na pertença ao núcleo duro do
movimento neonazi na República Checa. Se hoje é apenas uma pálida cópia
dos seus equivalentes ocidentais, pode ganhar amplitude no futuro.
O caso de Vítkov não é o único exemplo das mudanças que se
manifestaram recentemente na República Checa, na abordagem de ações
abertamente racistas. A condenação unânime da classe política, tanto de
esquerda como de direita, suscitada pelas afirmações de Liana Janackova
quando se candidatou às eleições para o Senado – “Sim, sou racista e não
estou de acordo em que os ciganos se possam instalar em qualquer parte
no meu bairro” – é outra boa ilustração desta tendência.
É verdade que o Presidente da República destoou um pouco, ao
qualificar como inadequadamente pesadas estas condenações a penas de
prisão superiores a 20 anos, pela perpetração de um crime racista
executado a sangue-frio que provocou a mutilação de uma rapariguinha
cigana. No mesmo dia, Vaclav Klaus indignava-se com a mesma paixão
contra a supressão de algumas linhas aéreas e contra a intenção do
Governo de lançar um imposto sobre as centrais fotovoltaicas… De tanto
se indignar, até o Presidente se pode enganar.
Fonte: PRESSEUROP
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