Justiça
DorivanMarinho / STF
Nuvens de desconfiança pairam sobre a Justiça
Estudos indicam que advogados confiam menos na Justiça do que a população em geral (que já confia muito pouco)
Publicado em 07/01/2011 | Vinícius André Dias
Essa avaliação da
Justiça feita pela advocacia é ainda pior do que a feita pela população
em geral, que deu nota 4,4 ao Judiciário, conforme outra pesquisa, o ICJ
Brasil, da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV) – cujo
mais recente relatório, referente ao terceiro trimestre de 2010, foi
divulgado em novembro passado. Como o estudo da Fundace, o índice
levantado pela FGV leva em conta diversos aspectos, como percepções de
honestidade, eficiência e acesso à Justiça. Contudo, ao responder
espontaneamente sobre o quanto confiam no Poder Judiciário, apenas 33%
dos entrevistados pela FGV responderam que ele é confiável ou muito
confiável. Ou seja, tanto entre advogados quanto entre a população em
geral, cerca de sete em cada dez pessoas desconfiam da Justiça.
Problemas
Problemas
O grande problema do Judiciário, apontado por ambas as pesquisas, é a morosidade. O levantamento da Fundace indicou que 99% dos advogados entrevistados avaliam a Justiça como lenta ou muito lenta, porcentual que é de 89% se considerada a população em geral, segundo o trabalho da FGV. Um Judiciário moroso não tem um grau aceitável de eficiência, como revelou outro indicador presente no estudo da Fundace: 87,9% dos advogados ouvidos disseram acreditar que a Justiça brasileira é pouco ou nada eficiente. Já a pesquisa da FGV revelou que 55% da população em geral classifica o Judiciário como pouco ou nada competente.
Em relação à parcialidade da Justiça, o levantamento da Fundace
mostrou que 80,5% dos profissionais da advocacia consideram que há pouca
ou nenhuma igualdade de tratamento, sem importar meios econômicos,
contatos pessoais ou filiação política. Por outro lado, o estudo da FGV
indicou que 61% da população em geral entende que o Judiciário é pouco
ou nada independente. Os custos judiciais também foram abordados pelas
duas pesquisas: 88,3% dos advogados afirmaram serem altos ou muito altos
os custos para a solução de litígios (ICJ Fundace), mesma opinião de
77% população da população em geral (ICJ Brasil, da FGV).
Como se nota, em regra, os profissionais da advocacia têm uma
percepção da Justiça pior do que a do restante da população. “Segundo o
artigo 133 da Constituição, o advogado é indispensável à administração
da Justiça. Esse profissional faz a ligação entre o Poder Judiciário e o
cidadão. Sua percepção reflete o dia a dia forense e é posteriormente
transmitida para as pessoas que representam nas ações”, explica o
advogado e professor Marco Aurélio Gumieri Valério, um dos coordenadores
da pesquisa da Fundace.
Apenas dois itens relativos ao Judiciário foram mais bem – ou menos
mal – avaliados pelos advogados do que pela população em geral. Um deles
foi o acesso à Justiça. De acordo com o trabalho da Fundace, 61,9% dos
profissionais da advocacia consideram difícil ou muito difícil o acesso
para a solução de litígios. Já a pesquisa da FGV mostrou que 69% dos
entrevistados julgam ser difícil ou muito difícil utilizar o
Judiciário. Os advogados também acreditam mais na honestidade da
Justiça do que a população em geral: 49,4% dos profissionais da
advocacia afirmaram considerar o Judiciário nada ou pouco honesto (ICJ
Fundace), enquanto esse porcentual sobe para 63%, se considerada a
opinião média do povo brasileiro (ICJ Brasil, da FGV).
Otimismo
Apesar de o quadro atual não agradar, mais da metade (50,4%) dos
advogados ouvidos pela pesquisa da Fundace fizeram previsões de que a
Justiça estará melhor ou muito melhor nos próximos cinco anos. A
experiência, contudo, diminui o otimismo: entre os advogados com até
cinco anos de atuação, o índice dos que revelaram acreditar em uma
melhora do Judiciário recebeu 50,83 pontos, contra 42,72 pontos, entre
aqueles com mais de 15 anos de advocacia.
Fonte: GAZETA DO POVO (Curitiba)
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