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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

SUA SANTIDADE DEFENDE FÉ EMPURRADA GOELA ABAIXO



Paulo, o stalinista avant la lettre, ao chegar na politeísta Atenas escandaliza-se ao ver a cidade cheia de deuses. Ou de ídolos, como está escrito nos Atos. Epicuristas e estóicos que o ouviam na ágora se perguntavam: “que quer dizer este charlatão?” E outros: “parece ser pregador de deuses estranhos; pois anunciava a boa nova de Jesus e a ressurreição”.



Paulo, de pé em meio ao Areópago, deita falação: “Varões atenienses, em tudo vejo que sois excepcionalmente religiosos; porque, passando eu e observando os objetos do vosso culto, encontrei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais sem o conhecer, é o que vos anuncio”.

Ora, os atenienses, temendo ter esquecido algum deus, haviam erguido por precaução um altar ao eventual deus que ainda não conheciam. Paulo, com sua retórica proselitista, interpretou a cautela dos helenos como o anúncio de seu deus particular: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; nem tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas; e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação”. 

O deus do profeta stalinista era único e excluía todos os demais deuses. Coisa que os gregos não entendiam. Quando Alexandre, trezentos anos antes, ao ver-se cultuado como deidade no Oriente, pediu aos gregos que o entronizassem como deus, os atenienses foram generosos. Que assim seja. Mais deuses menos deuses, tanto faz como tanto fez.

Não era esta a proposta de Paulo. O que mais espantava gregos e romanos, quando aportaram os primeiros cristãos em Roma e Atenas, era o fato de que o novo deus não tinha nacionalidade. Os gregos tinham seus deuses, os romanos também, os judeus tinham um outro, os egípcios tinham também os seus, aliás bem mais antigos que os deuses gregos e romanos. A que nação pertencia o Cristo? A nenhuma. Não pertencendo a nenhuma nação, se pretendia o deus de todas. Assim nasce a peste do monoteísmo. E com o deus único, as guerras religiosas, os massacres e torturas, a Inquisição.

Nem os antigos judeus acreditavam na idéia de um deus único. Pois os deuses são muitos na época do Pentateuco. Jeová é apenas um entre eles, o deus de uma tribo, a de Israel. Escreve Jean Soler: “Ora, nem Moisés nem seu povo durante cerca de um milênio depois dele – os autores da Torá incluídos – não acreditavam em Deus, o Único. Nem no Diabo”. A idéia de um deus único só vai surgir mais adiante, no dito Segundo Isaías. Reiteradas vezes escreve o profeta:

"Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus".

Num acesso de egocentrismo, Jeová se proclama o único:

"Quem há como eu? Que o proclame e o exponha perante mim! Quem tem anunciado desde os tempos antigos as coisas vindouras? Que nos anuncie as que ainda hão de vir. 8 Não vos assombreis, nem temais; porventura não vo-lo declarei há muito tempo, e não vo-lo anunciei? Vós sois as minhas testemunhas! Acaso há outro Deus além de mim?"

Ou ainda:

"Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cinjo, ainda que tu não me conheças. (...) Porventura não sou eu, o Senhor? Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador não há além de mim".

A Igreja Católica até hoje não se libertou deste viés totalitário de Paulo. Como Stalin, o papa se pretende dono de uma verdade universal, à qual devem submeter-se todos os povos da terra. Após batizar 21 crianças no último domingo, Bento XVI afirmou que os católicos deveriam dar nomes cristãos a seus filhos em vez de opções "da moda", muitas de origem anglo-saxônica. De acordo com o jornal italiano "Corriere della Sera", o papa disse que tal prática beneficiaria o "renascimento" religioso das crianças.

Que os católicos dêem nomes cristãos a seus filhos até que se entende. O problema vem logo adiante. "Cada batizado recebe o caráter de filho a partir do nome cristão, signo inconfundível que o Espírito Santo faz nascer de novo o homem a partir do útero da igreja. Sua Santidade encorajou "todos os fiéis a redescobrirem a beleza de serem batizados" e defendeu o batismo como algo "secreto" porém "poderosíssimo" e "sobrenatural", colocando a criança "em comunicação com Deus".

Nos idos do comunismo, os cristãos se escandalizavam que crianças fossem educadas segundo uma doutrina materialista e atéia. Mutatis mutandis, os católicos fazem a mesma coisa. Enfiam goela abaixo em crianças e adolescentes uma fé absurda, que implica a crença em uma mãe virgem, a idéia de três pessoas em uma só, a vida eterna e engodos outros. Quando Paulo falou no Areópago da ressurreição dos mortos, os atenienses disseram mais ou menos o seguinte: “então volta e depois te ouviremos de novo”.

Nada mais tirânico que consagrar uma criança a uma fé que ela não tem condições de entender. As estatísticas da Santa Madre se alimentam deste embuste. Todo batizado é católico, logo a Igreja tem dois bilhões de crentes. Ora, isto é uma farsa contábil. Há milhões e milhões de batizados que nada têm a ver com cristianismo ou catolicismo. Os lusos, muito lógicos, andaram criando um certificado de desbatismo. Pessoas que não praticavam a fé que lhes fora imposta escreviam as paróquias para serem desbatizados.

A beleza de serem batizados, da qual fala Sua Santidade, no fundo é um instrumento totalitário que constitui um flagrante atentado aos direitos humanos. Que história é essa de impor a uma criança uma crença que

1º - ela não tem condições de entender
2º - constituirá uma camisa-de-força para toda a vida, caso dela não se desembarace e,
3º - se fundamenta no absurdo.

Ao louvar as excelências do batismo, Bento XVI se revela herdeiro legítimo do protostalinismo professado por Paulo no Areópago.


Fonte: Blog do JANER CRISTALDO

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