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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

As enchentes em SC e a sangria de dinheiro público


SC: Vítimas de enchentes estão em abrigos desde 2008


Portal TerraFabrício Escandiuzzi



Uma semana depois de uma nova grande enchente castigar Santa Catarina, as quase 1 milhão de pessoas atingidas ainda trabalham para retomar suas vidas. Algumas, no entanto, lutam há três anos para voltar para casa. Vítimas da grande catástrofe de 2008, quando 135 pessoas morreram em consequência das chuvas e dos desmoronamentos, cerca de 10 famílias ainda moram em um abrigo de Blumenau, à espera da inclusão em projetos habitacionais.
Maria Aparecida Luiz, que perdeu tudo há três anos, permanece com o marido vivendo no abrigo do bairro Garcia. "Cheguei aqui com água na cintura em 2008 e desde então espero. Tenho o meu canto e vou ali chorar e rezar todos os dias. Não tem um único dia que eu não chore, não aguento mais", disse ela, explicando que não foi enquadrada no programa devido à renda do marido.
"A renda dele ultrapassou em R$ 15 o que eles exigem para que a gente compre a casa. Ninguém está dando nada. Todo mundo compra e eu não tenho sequer esse direito. Queria contar isso para a presidente Dilma", afirmou Maria.

Blumenau ainda mantém em um abrigo no bairro Garcia, onde moram famílias vítimas da enchente de 2008
Blumenau ainda mantém em um abrigo no bairro Garcia, onde moram famílias vítimas da enchente de 2008
No total, apenas o custeio das moradias provisórias da cidade até 2010 chegou aos R$ 16 milhões, segundo a prefeitura. O Programa Minha Casa, Minha Vida do governo federal já entregou 1.028 apartamentos em Blumenau. O último bloco entregue, no dia 9 de junho, contou com a presença da presidente Dilma Rousseff (PT). A meta do governo no município é, até o final do ano, entregar todas as 1.824 unidades prometidas.
Com três filhos, Janete Silvério veio do Paraná poucos antes da enchente de 2008. Segundo ela, o pouco tempo em Blumenau vem barrando a sua inclusão nos cadastros de habitação. "Vou esperar, mas sei que uma hora esses abrigos irão acabar. Tem político que vem aqui, distribui cesta básica para os desabrigados e não se move para nos ajudar", disse.
Quem acabou de ser contemplado e pode comprar o apartamento reclama que eles estão sendo entregues sem estar concluídos. "Só não me mudei porque o apartamento não tem piso e nem pias. Eu não tenho mais condições de fazer outra parcela", queixou-se Márcia Hilleshein, que passou por uma nova enchente na semana passada dentro de uma moradia provisória da cidade. "Tanta espera para conseguir um apartamento e achei que fosse morrer com a nova enchente. Agora vou mudar sem piso mesmo", disse.

Recursos liberados

O Estado de Santa Catarina recebeu do governo federal desde 2008 mais de R$ 500 milhões para atendimento de municípios vítimas de catástrofes ambientais. De acordo com dados obtidos junto à Diretoria de Contabilidade Geral da Secretaria da Fazenda, foram repassados aos cofres catarinenses apenas entre 2008 e 2010 um total de R$ 472 milhões. A maior parte ocorreu em 2009 (R$ 264 milhões) em atendimento às vítimas da catástrofe ocorrida no ano anterior.

Decretos de emergência

Em menos de nove meses, o número de decretos de situação de emergência nas cidades de Santa Catarina ultrapassou os registros em todo o ano de 2010. Desde 1998, o ano de 2011 é o segundo em número de decretos o Estado.
Com as chuvas recordes registradas no mês de agosto e a enchente da semana passada, que levou 80 cidades à situação de emergência, o número de decretos em decorrência de catástrofes naturais chegou a 481 no ano. De acordo com os dados da Defesa Civil estadual, em todo o ano passado foram 432 decretos.
O levantamento aponta que o número chega a ser superior ao registrado em 2008, ano que a enchente matou 135 pessoas e de 2004, quando o furacão Catarina atingiu a região Sul. Nestes anos, as prefeituras publicaram, respectivamente, 272 e 275 decretos de emergência.


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