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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O regresso dos velhos demônios

França-Alemanha

5 dezembro 2011
Paris
No papel: nova ordem.
No papel: nova ordem.
As propostas alemãs para uma maior disciplina na zona euro foram mal recebidas em França. Diversos comentários germanófobos revelam uma realidade indiscutível: os franceses aceitam a Europa, com a condição de esta ser francesa, constata um editorialista de Les Echos.


Na semana que se inicia, que será concluída pela cimeira europeia de 9 de dezembro, a relação franco-alemã será novamente a chave de uma eventual saída da crise. Neste aspeto, deve ser reconhecida e corrigida uma falha, e deverá ser evitado um erro de ótica.
A falha, grave, provém de todas as vozes germanófobas que se expressaram antes do fim de semana. “Europa de forma violenta e autoritária” (Marine Le Pen) [presidente do partido de extrema-direita da Frente Nacional]; “A política à Bismarck de Merkel” (Arnaud Montebourg) [deputado socialista], o que leva a comparar a chanceler a Hitler; “capitulação” (Martine Aubry) [secretária do Partido Socialista]... Estas palavras correm o risco de “despertar os velhos demónios” para retomar o título da excelente última obra do economista Jean Pisani-Ferry.
O facto de recusarmos estas práticas de bode expiratório que insultam a História não nos proíbe de criticar o nosso grande parceiro: a sua lentidão em reagir nestes últimos dois anos na crise do euro e a sua atenção na única disciplina orçamental são discutíveis em período de recessão.
Mas as palavras escolhidas nunca são inocentes e as declarações de François Hollande [candidato socialista às eleições presidenciais francesas de 2012], ontem, em Le Journal du Dimanche (“evitemos palavras que magoam”) ficaram aquém do que se deveria ter dito.

A força de Berlim é a fraqueza da França

Somos também obrigados a referir, de passagem, que a força de Berlim é a fraqueza de uma França que padece há anos de uma fraca credibilidade sobre as finanças públicas, um facto ainda hoje inalterado. Deve-se por fim relembrar, desta vez com um sorriso, que os franceses aceitam a Europa com a condição expressa de esta ser francesa!
O erro de ótica envolve os meios para resolver a crise atual. As discussões entre a França e a Alemanha assentam sobre a automaticidade das sanções contra os países cigarras; sobre a reforma dos tratados (como? quando? por quantos países, vinte sete ou dezassete?) e a função do tribunal de justiça, cujas implicações sobre a natureza da União são reais; envolve os meios utilizados para tranquilizar os credores garantindo-lhes que as suas dívidas deixarão de ser suprimidas. Mas, na realidade, se for necessário um acordo, este não será suficiente.
A solução para o ceticismo que persiste nos mercados (as saídas de capitais, o facto de as empresas fazerem empréstimos mais baratos do que o Estado) continua totalmente nas mãos do Banco Central Europeu, sendo o único ainda capaz de tranquilizar a zona euro.
A diminuição das taxas de interesse constatadas nestes últimos dias (o “spread” franco-alemão passou de 220 para 100 pontos em dez dias) deve-se ao discurso mais aberto de Mario Draghi, o seu presidente. Todos os caminhos levam a Frankfurt.

Merkel-Sarkozy

A cabeça, as pernas e a banqueira

O proclamado entendimento entre a chanceler alemã e o Presidente francês é produzido até aos mais ínfimos pormenores. Ela de negro e colar de prata, ele de negro e gravata azul. Ela afirma que esta é “a crise mais grave desde a criação do euro”, ele acrescenta: “sem dúvida, o maior desafio que a União europeia teve que enfrentar desde que existe”.
Mas, segundo Der Spiegel, o entendimento termina aí. Os pomos da discórdia continuam os mesmos, a saber, o funcionamento do fundo de resgate europeu (FEEF), o papel do BCE e o envolvimento dos credores privados na eventual falência dos Estados.
Na opinião deste semanário de Hamburgo, existe, no entanto, margem para um compromisso. “Se as instituições europeias conseguirem impedir que os governos vivam acima das suas possibilidades, deixa de haver razões para recusar a contrapartida, ou seja, uma responsabilidade comum em casos de emergência.”
Mas, de momento, "Angela Merkel e Nicolas Sarkozy continuam prisioneiros das tradições políticas das suas pátrias. Os franceses não querem aceitar a independência do Banco Central Europeu. Os alemães pensam poder beneficiar das vantagens do mercado comum sem terem responsabilidade financeira”.
Der Spiegel relata que a desconfiança é tanta que Jean-Claude Juncker, o primeiro-ministro do Luxemburgo e Presidente do Eurogrupo, é interrogado por um assim que acaba de telefonar ao outro.
Uma anedota que serve de ilustração: “À margem de uma cimeira europeia, Sarkozy diz à chanceler: ‘Angela, nós os dois somos a cabeça e as pernas da Europa’. Merkel responde: ‘Não, tu és a cabeça e as pernas. Eu sou a banca’.”

Fonte: PRESSEUROP

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