Rogério Tuma
As cirurgias cardíacas exigem
frequentemente que o coração pare de bater para o cirurgião manipulá-lo
com segurança. Para tanto, foi desenvolvida a circulação extracorpórea,
uma máquina enorme com roletes que precisa de pelo menos duas pessoas
para manuseá-la durante a cirurgia. Esse conceito iniciou uma corrida
científica para a criação de um dispositivo portátil, permanente e que
possa substituir o coração humano sem causar rejeição pelo corpo em que
for implantado. Este é o coração artificial.
O trajeto do sangue pelo coração não é
difícil de entender. O coração é uma bomba com quatro cavidades: as que
recebem o sangue são os átrios, e as que mandam sangue para os outros
órgãos são os ventrículos. Portanto, temos um átrio e um ventrículo
direito e outro par à esquerda.
A bomba cardíaca tem função dupla. Ela
precisa mandar o sangue oxigenado para os tecidos, mas também o sangue
que volta com gás carbônico para os pulmões. O lado direito é o que
recebe o sangue dos tecidos e o manda para os pulmões. E o lado esquerdo
recebe o sangue renovado dos pulmões e o envia para o restante do
corpo.
Então o trajeto do sangue é o seguinte:
passa pelos tecidos, átrio direito, ventrículo direito, pulmões, átrio
esquerdo, ventrículo esquerdo e novamente os tecidos. Os vasos que
levam o sangue para o coração são chamados de veias. E as artérias
transportam o sangue ejetado do coração. A artéria mais importante é a
aorta, que está ligada ao ventrículo esquerdo e nela passa todo o sangue
oxigenado que nutre os tecidos.
O nome verdadeiro do coração artificial
mais avançado no momento é um dispositivo de auxílio do ventrículo
esquerdo, o que significa que o aparelho não é um coração completo, mas
apenas auxilia e não substitui o coração. E sua função é trabalhar em
paralelo ao ventrículo esquerdo, recebendo o sangue do átrio esquerdo e
mandando-o para a aorta. A entrada desta bomba auxiliadora fica na ponta
do ventrículo esquerdo e sua abertura de saída é ligada à aorta. Este
tipo de sistema é implantado dentro do tórax do paciente.
Existem duas correntes científicas em
competição para fazer o dispositivo, uma americana e outra alemã. O
modelo alemão parece mais bem-sucedido, pertence ao Berlin Heart GmH,
que desenvolveu dois modelos de dispositivos, um externo e outro
interno. O sistema interno é o mais avançado, chama-se Incor, em
homenagem subliminar ao instituto brasileiro onde um dos engenheiros
alemães fez um estágio. E é um equipamento de terceira geração, isto é,
sua estrutura física e software são muito mais avançados.
Durante a primeira cirurgia feita no
Brasil para a colocação de um dispositivo desta complexidade, ocorrida
há quatro semanas, o que mais chamava a atenção na sala foi a
curiosidade e a alegria do doutor Adib Jatene ao manipular a genial
engenhoca.
O veterano da área a comparou com uma
centrífuga para enriquecimento de urânio, capaz de girar a 80 mil
rotações por minuto sem fazer qualquer ruído. “Não há mancal na máquina,
mas uma rosca sem fim gira até 10 mil rotações por minuto, flutuando em
um campo magnético giratório”, disse Jatene. “A vantagem de se utilizar
o campo magnético é que a máquina pouco se aquece e é extremamente
silenciosa, os primeiros corações artificiais faziam um barulho
ensurdecedor.”
O Berlin Heart aspira o sangue do
ventrículo esquerdo e o injeta diretamente na aorta, em um fluxo
contínuo, não pulsátil, que atinge além de 6 litros por minuto, a
quantidade de sangue que um indivíduo de 80 quilos de peso normalmente
precisa para nutrir todo o seu corpo. Ainda temos muito a evoluir, mas a
via de aprendizado é expressa e promissora.
Fonte: CARTACAPITAL
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