De acordo com o pneumologista Hermano de Castro, chefe
do ambulatório de Doenças Pulmonares Ambientais e Ocupacionais da Escola
Nacional de Saúde Pública (ENSP), ligada à Fiocruz, o material pode
conter, além de elementos que irritam o aparelho respiratório, como o
grafite, outros metais que podem provocar câncer no longo prazo. Ele
informou que a Fiocruz enviou ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea)
um ofício solicitando as informações.
Técnicos do Inea coletaram
amostras das partículas expelidas, mas, segundo a assessoria de imprensa
do órgão, ligado à Secretaria Estadual do Ambiente, ainda não há
previsão de quando o resultado da análise laboratorial ficará pronto.
“Precisamos
ter uma avaliação qualitativa e quantitativa desse material que foi
coletado pelos técnicos do Inea. Poeira de siderurgia pode não ser só
grafite. A literatura de vazamento de siderurgias revela que, em geral,
há uma composição de metais variados, como zinco e cromo, que podem ser
mais graves à saúde. Também precisamos avaliar o percentual de fração
respirada pela população”, afirmou Castro, em entrevista à Agência
Brasil.
Segundo ele, mesmo que a fuligem tenha sido formada apenas
por grafite, principalmente crianças e idosos podem ter quadros de asma
e bronquite agravados, além de irritações na pele. “Mesmo que seja só
grafite, as pessoas não devem respirar grafite, as pessoas não vivem
respirando grafite achando que isso é inerte”, acrescentou.
O
pneumologista também ressaltou que, além da poeira visível, existem as
partículas menores que, dependendo do tamanho, podem chegar aos alvéolos
pulmonares e aumentar as chances do desenvolvimento de câncer. “As
partículas maiores vão irritar o nariz, a traqueia, a parte mais grossa
do brônquio. Mas as menores podem chegar até os alvéolos e, aí, a
consequência é pior porque metais desse tamanho podem ser cancerígenos
no futuro”, explicou.
A recomendação, segundo Castro, é que haja
um acompanhamento da saúde da população exposta às emissões, para
verificar a evolução dos quadros de irritação respiratória e cutânea,
por exemplo. Ele também defende que, por meio do Sistema Único de Saúde
(SUS) e da própria empresa, haja uma busca ativa de casos de
comprometimento da saúde em função das emissões, que também devem ser
monitorados.
A CSA divulgou hoje (3) uma nota veiculada em
diversos jornais reconhecendo “o incômodo gerado” aos vizinhos pelas
emissões, mas garantindo que elas não geraram danos à saúde da
população.
Segundo a empresa, “laudo de renomado especialista, o
médico René Mendes, é taxativo ao afirmar que não existe qualquer
relação entre as emissões de grafite verificadas e doenças na
população”. A nota afirma, ainda, que o grafite é totalmente inerte e
não tóxico e que sua poeira forma flocos de grandes dimensões, que não
chegam aos pulmões. A CSA informa, também, que acatou a decisão do Inea
de indenizar moradores atingidos no valor referente à limpeza dos
imóveis e mobiliário e que aguarda o instituto determinar a área onde as
residências receberam a fuligem.
Pelas emissões de agosto, a
secretaria do Ambiente multou a companhia em R$ 1,8 milhão e prometeu
estabelecer nova multa por causa dos problemas do mês passado. Além
disso, a companhia foi obrigada a operar com 30% de sua capacidade até
que sejam resolvidos os problemas técnicos que resultaram no lançamento
de poluentes no ar, no entorno da usina, em dezembro. Na ocasião, a
secretária do Ambiente, Marilene Ramos, chegou a afirmar que a
siderúrgica poderia não receber a licença definitiva de funcionamento,
prevista para fevereiro, se não fizesse as adequações acertadas para
evitar novas emissões.
A CSA, fruto de uma parceria entre a alemã
ThyssenKrupp e a brasileira Vale, foi inaugurada em julho do ano passado
e funciona com uma licença de pré-operação.
Fonte: JORNAL DO BRASIL
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