Viena, 3 jan (EFE).- Uma vala comum com os restos mortais de cerca de
220 supostas vítimas do "Programa de Eutanásia" nazista, cujo foco era
eliminar portadores de deficiências, foi encontrada na localidade de
Hall, no Tirol austríaco, informou nesta segunda-feira a emissora
pública da Áustria "ORF".
Segundo fontes, a fossa foi encontrada nos arredores do centro de
psiquiatria do hospital regional de Hall durante as obras que estavam
sendo realizadas no estabelecimento médico.
As vítimas teriam sido enterradas entre os anos de 1942 e 1945, e
há suspeitas de que muitas delas tenham morrido no chamado "Programa de
Eutanásia", iniciado pelos nazistas para potencializar a "raça ariana",
eliminando portadores de deficiências físicas e mentais, entre eles
muitos menores de idade.
As autoridades austríacas paralisaram as obras e começaram a
investigar a identidade dos corpos, assim como a possível existência de
outras valas.
Até que não sejam realizadas as autópsias dos corpos, a causa das
mortes das pessoas enterradas não poderá ser determinada, embora o
historiador Horst Schreiber tenha revelado à "ORF" que há suspeitas de
que as vítimas tenham morrido de fome.
Estima-se que quase 200 mil pessoas com algum tipo de doença ou
deficiência tenham sido assassinadas durante o regime nazista, após
terem sido separadas de suas famílias com o pretexto de serem
encaminhadas a instituições sanitárias.
Na Áustria, o lugar mais relacionado a este programa é o antigo
palácio de Hartheim, perto da capital da Alta Áustria, Linz, onde foram
eliminadas aproximadamente 30 mil pessoas entre 1940 e 1944, catalogadas
na nomenclatura nazista como "vidas indignas de ser vividas". EFE
ll/mm
Fonte: DEUTSCHE WELLE
-=-=-=-=-=
Matéria relacionada:
Quando me mudei para cá, era uma área residencial ocupada pela chamada “borboleta noturna russa”: artistas e atores freelancer, que se agarravam às mesas dos bares como as borboletas aos castanheiros. Os boémios ocidentais estavam a substituir os taciturnos pensionistas alemães-orientais, nos apartamentos aquecidos a lenha e de casas de banho coletivas.
Vieram depois os barbudos funcionários públicos do norte da Alemanha, seguidos pelos empreendedores suábios e pelas crianças da era da Internet. Agora, a nossa vizinhança é mista e indistinta. Mas é patente que a maioria das pessoas não tem trabalhos decentes: apoiam-se umas às outras, desenrascam-se e é assim que conseguem seguir para diante.
A capacidade de mudar é o que distingue uma sociedade aberta de uma sociedade totalitária. O Presidente alemão disse em tempos que a democracia depende de que todos os cidadãos aceitem as suas regras. Na verdade, uma ditadura depende de que todos aceitem as suas regras; o que caracteriza uma democracia é que ninguém aceita as regras e muito menos as sabe de cor. Não, essas regras são permanentemente reinventadas, num processo democrático.
A grande arte da política consiste em ter em conta os vários grupos, as incontáveis minorias, e em abrangê-los a todos. Um Estado que se preza tem de mostrar solidariedade: só tem razão de ser se todos os seus cidadãos forem tratados como iguais – independentemente do dinheiro que põem nos cofres do Estado.
Infelizmente, a Alemanha está a praticar cada vez mais uma política de duas medidas. “Se queremos ter uma medida para os pouco produtivos, temos igualmente de ter uma medida para os muito empreendedores”, diz a chanceler – o que é uma maneira de dividir a sociedade. Com a mesma iluminação, um superempreendedor membro da direção do Banco Federal tentou dividir as pessoas em boas e inúteis. Só os “produtivos” merecem respeito, é a mensagem global.
Mas a “produtividade” não é, em si, uma qualidade humana; é um termo da revolução industrial. Um homem é mais do que um fator de produção: ganha ao fazer algo com paixão, não com a pressão de produzir e apresentar bons resultados. Para os que veem a vida como uma espécie de equação de custo-benefício, a ideia de “paixão” é perturbadora. O seu sonho é uma sociedade que se livrou de gente inútil – todos aqueles tipos improdutivos, que não produzem nenhum valor acrescentado respeitável, que se vestem de uma maneira esquisita e falam um alemão desgraçado só para conseguirem sobreviver.
Como as pessoas que em tempos vieram para a Alemanha fazer os trabalhos que nenhum alemão queria fazer. Serviam para extrair o carvão das profundezas das minas e depois desapareciam, eclipsavam-se ou transformavam-se eles próprios em carvão. Não sei como os alemães encaravam a vinda dos mineiros naquela época, em condições que ninguém pensava que os fizesse permanecer, trazer as esposas e criar os filhos.
Do ponto de vista de um contabilista, seria vantajoso livrar-se dessa gente. Assim, a Alemanha seria uma terra para os fortes e os espertos: pode-se sempre mandar vir os otários do exterior para fazer os trabalhos indesejáveis e, quando for conveniente, voltar a pô-los fora, depois de um teste genético.
Foram feitas repetidas tentativas para separar os fracos dos fortes, os certos dos errados – e não apenas na Alemanha. Mas todas falharam. Os fortes acabaram sempre por sucumbir juntamente com os fracos. Um enigma. Aparentemente, fortes e fracos estão fatalmente dependentes uns dos outros. Não conseguem resistir uns sem os outros. Assim que se eliminam os fracos, os fortes começam a definhar e a ser corridos para fora das fileiras. Ninguém consegue garantir o seu refúgio privado, nem o diretor do Banco Federal. São todos ou ninguém.
Fracos e fortes estarão para sempre acorrentados. Em dias bons, apreciarão o valor de terem de se manter juntos. Em dias piores, os demagogos semearão a dissensão e a ira entre todos. E dado que é muito mais fácil espalhar a discórdia do que a colaboração, os demagogos e os falsos conselheiros frequentemente obtêm grandes resultados. O que os introduz no oitavo círculo do Inferno de Dante, junto com todos os demais falsos conselheiros. Ou talvez no nono, com os traidores. Parece que é frio e desagradável, por lá, enfiados no gelo – sem ninguém que lhes dê a mão, para os tirar de lá.
Fonte: DER SPIEGEL
-=-=-=-=-=
Matéria relacionada:
Questões éticas
Integração
No oitavo círculo do Inferno
03 janeiro 2011 Die Tageszeitung Berlim
O castigo dos ladrões na Alegoria do Inferno de Dante, uma ilustração de Gustave Doré (1857).
O debate sobre a integração espalhou-se célere
pela Alemanha, depois de Thilo Sarrazin ter divulgado as suas teorias
sobre a perda da cultura alemã causada por demasiados imigrantes
muçulmanos. O escritor russo Wladimir Kaminer, ele próprio imigrante,
junta-se agora à polémica, para advertir contra o perigoso hábito de
dividir a sociedade em “fortes” (“produtivos") e “fracos”
(“improdutivos"): goste-se ou não, diz, apoiamo-nos uns aos outros ou
caímos todos ao mesmo tempo.
Quase todos os anos, há uma Alemanha que morre, como diz
Thilo Sarrazin, e outra que surge. A vida avança, mudando todos os dias –
para grande tristeza de alguns e alegria de outros. No meu bairro
adotivo de Berlim, o Prenzlauer Berg, já assisti a toda a espécie de
mudanças, nos últimos 20 anos.Quando me mudei para cá, era uma área residencial ocupada pela chamada “borboleta noturna russa”: artistas e atores freelancer, que se agarravam às mesas dos bares como as borboletas aos castanheiros. Os boémios ocidentais estavam a substituir os taciturnos pensionistas alemães-orientais, nos apartamentos aquecidos a lenha e de casas de banho coletivas.
Vieram depois os barbudos funcionários públicos do norte da Alemanha, seguidos pelos empreendedores suábios e pelas crianças da era da Internet. Agora, a nossa vizinhança é mista e indistinta. Mas é patente que a maioria das pessoas não tem trabalhos decentes: apoiam-se umas às outras, desenrascam-se e é assim que conseguem seguir para diante.
A capacidade de mudar é o que distingue uma sociedade aberta de uma sociedade totalitária. O Presidente alemão disse em tempos que a democracia depende de que todos os cidadãos aceitem as suas regras. Na verdade, uma ditadura depende de que todos aceitem as suas regras; o que caracteriza uma democracia é que ninguém aceita as regras e muito menos as sabe de cor. Não, essas regras são permanentemente reinventadas, num processo democrático.
A grande arte da política consiste em ter em conta os vários grupos, as incontáveis minorias, e em abrangê-los a todos. Um Estado que se preza tem de mostrar solidariedade: só tem razão de ser se todos os seus cidadãos forem tratados como iguais – independentemente do dinheiro que põem nos cofres do Estado.
Infelizmente, a Alemanha está a praticar cada vez mais uma política de duas medidas. “Se queremos ter uma medida para os pouco produtivos, temos igualmente de ter uma medida para os muito empreendedores”, diz a chanceler – o que é uma maneira de dividir a sociedade. Com a mesma iluminação, um superempreendedor membro da direção do Banco Federal tentou dividir as pessoas em boas e inúteis. Só os “produtivos” merecem respeito, é a mensagem global.
Mas a “produtividade” não é, em si, uma qualidade humana; é um termo da revolução industrial. Um homem é mais do que um fator de produção: ganha ao fazer algo com paixão, não com a pressão de produzir e apresentar bons resultados. Para os que veem a vida como uma espécie de equação de custo-benefício, a ideia de “paixão” é perturbadora. O seu sonho é uma sociedade que se livrou de gente inútil – todos aqueles tipos improdutivos, que não produzem nenhum valor acrescentado respeitável, que se vestem de uma maneira esquisita e falam um alemão desgraçado só para conseguirem sobreviver.
Como as pessoas que em tempos vieram para a Alemanha fazer os trabalhos que nenhum alemão queria fazer. Serviam para extrair o carvão das profundezas das minas e depois desapareciam, eclipsavam-se ou transformavam-se eles próprios em carvão. Não sei como os alemães encaravam a vinda dos mineiros naquela época, em condições que ninguém pensava que os fizesse permanecer, trazer as esposas e criar os filhos.
Do ponto de vista de um contabilista, seria vantajoso livrar-se dessa gente. Assim, a Alemanha seria uma terra para os fortes e os espertos: pode-se sempre mandar vir os otários do exterior para fazer os trabalhos indesejáveis e, quando for conveniente, voltar a pô-los fora, depois de um teste genético.
Foram feitas repetidas tentativas para separar os fracos dos fortes, os certos dos errados – e não apenas na Alemanha. Mas todas falharam. Os fortes acabaram sempre por sucumbir juntamente com os fracos. Um enigma. Aparentemente, fortes e fracos estão fatalmente dependentes uns dos outros. Não conseguem resistir uns sem os outros. Assim que se eliminam os fracos, os fortes começam a definhar e a ser corridos para fora das fileiras. Ninguém consegue garantir o seu refúgio privado, nem o diretor do Banco Federal. São todos ou ninguém.
Fracos e fortes estarão para sempre acorrentados. Em dias bons, apreciarão o valor de terem de se manter juntos. Em dias piores, os demagogos semearão a dissensão e a ira entre todos. E dado que é muito mais fácil espalhar a discórdia do que a colaboração, os demagogos e os falsos conselheiros frequentemente obtêm grandes resultados. O que os introduz no oitavo círculo do Inferno de Dante, junto com todos os demais falsos conselheiros. Ou talvez no nono, com os traidores. Parece que é frio e desagradável, por lá, enfiados no gelo – sem ninguém que lhes dê a mão, para os tirar de lá.
Fonte: DER SPIEGEL
Nenhum comentário:
Postar um comentário