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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Com estranheza, evangélicos de Itaquera tentam aceitar obra em arena


A região de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, abriga incontáveis igrejas evangélicas. A partir de 2014, será também uma grande referência para os católicos. O Corinthians pretende colocar uma estátua de aço inoxidável de São Jorge de aproximadamente 30 metros de altura (do tamanho do Cristo Redentor, se descontado o pedestal do monumento carioca) e 200 toneladas em frente ao estádio que sediará a partida de abertura da Copa do Mundo de 2014.

Antevendo a rejeição da comunidade evangélica, que condena a adoração de imagens, o escultor encarregado do projeto já encontrou um subterfúgio para a aceitação de sua obra. Gilmar Pinna preferiu nomear a estátua de "Cavaleiro Fiel" e não admite mais comparações com São Jorge. Apesar de todos os elementos da caracterização habitual do padroeiro do Corinthians - um guerreiro, sua lança e o dragão - serem contemplados no monumento. "Pode até lembrar São Jorge, mas bem de longe. É o Cavaleiro Fiel", garantiu o artista plástico.

Em visitas a igrejas evangélicas da Zona Leste, a reportagem da Gazeta Esportiva.Net pôde perceber que o Cavaleiro Fiel de Gilmar Pinna ainda precisará enfrentar certo desconforto, e não apenas o dragão. A possibilidade de o futuro estádio corintiano se transformar em um centro de peregrinação religiosa causa estranheza em alguns dos cerca de 300 membros da Igreja Batista Central em Itaquera, por exemplo. O pastor Marcelo Rodrigues de Oliveira coçou o queixo, encheu os pulmões de ar e soprou vagarosamente quando foi informado da novidade. Cinco segundos depois, sorriu com o canto da boca, desconcertado: "É..."O pastor Marcelo tem propriedade para falar sobre os assuntos relacionados à nova arena do Corinthians. Ao menos na condição de corintiano que reside em Itaquera. Antes de começar a exercer ministério pastoral na Igreja Batista, em 1994, ele gostava de seguir seu clube de coração em meio a torcedores organizados. "Acompanho o Corinthians desde que me conheço por gente. Fiz parte dos Gaviões da Fiel, assisti à decisão do Campeonato Brasileiro de 1990, quando fomos campeões em cima do São Paulo, e a inúmeros outros jogos com finais felizes e tristes. Todo mundo é corintiano na minha família. Até o cachorro", brincou.

O fato de o Corinthians construir um estádio em Itaquera, portanto, havia empolgado o pastor Marcelo Rodrigues de Oliveira em um primeiro momento. Ele só não sabia que passará a avistar uma enorme imagem "parecida" com São Jorge sempre ao abrir uma janela ou caminhar pelas ruas da Zona Leste. "Vai ser estranho", admitiu, tentando superar esse sentimento. "No Parque São Jorge, já existe uma estátua de São Jorge. Mas é pequena, diferentemente desta. Às vezes, não fazem isso como culto, mas como um aspecto cultural. Por ser Parque São Jorge e coisa e tal, aí o pessoal...", relevou.. Fica meio contraditório, não? É uma orientação de um livro da Bíblia, de nome Corinthians... Tanto é que na King James, a tradução bíblica inglesa, o livro é grafado como Corinthians, e não como Coríntios", acrescentou, antes de se levantar para comprovar o discurso.

Triunfante, o pastor Marcelo abriu a sua versão King James da Bíblia na página 933, onde se lê em destaque: "The second espistle of Paul the apostle to the Corinthians". Em português: "A segunda epístola do apóstolo Paulo aos Coríntios". "Olhe aqui", ele mostrou, com o dedo indicador sublinhando a palavra "Corinthians". "Quando falo para os membros na nossa igreja que o Corinthians está na Bíblia, tenho que provar. Corinthians vem da cidade de Corinto, na Grécia, para onde o apóstolo Paulo endereçou duas cartas à igreja local. Os habitantes de lá se chamavam coríntios. Por isso, existiu aquele time inglês , que veio excursionar no Brasil em 1910 e inspirou a criação do nosso Corinthians. Era como se fosse o Barcelona da época", complementou.

A explanação despertou a atenção de Eliel Leão de Oliveira, auxiliar administrativo da Igreja Batista Central em Itaquera. "Está vendo, Eliel? O Corinthians é bíblico! Está na Bíblia!", disse Marcelo. Simpático, o palmeirense de 34 anos riu para a provocação do pastor corintiano - mas não muito para a estátua do Cavaleiro Fiel do estádio do Mundial de 2014. "Teologicamente, vemos uma obra dessas como uma idolatria. E, seguindo a Bíblia, abominamos a idolatria. Devemos adorar só Deus. Mas não tem problema. O Deus que a gente segue é bem maior do que essa estátua", opinou.Perto dali, os frequentadores do Campo Eclesiástico de Artur Alvim da Igreja Evangélica Avivamento Bíblico estavam em comunhão com a estranheza batista em relação ao Cavaleiro Fiel do escultor Gilmar Pinna. O que não impediu o presbítero Sulivan da Silva, apresentando-se como responsável pelo departamento de comunicação e marketing, de ser mais um a procurar aceitar a criação do monumento da arena corintiana. "A Igreja é uma instituição de Cristo com a finalidade de anunciar a todas as pessoas indistintamente a mensagem do evangelho, incluindo tudo aquilo que agrada e desagrada a Deus. Contudo, entendemos que as associações, clubes, instituições e tantas outras entidades não-governamentais e governamentais são responsáveis por suas escolhas", avisou.

"Se o Sport Club Corinthians Paulista quer construir uma estátua de 30 metros de seu ‘padroeiro’ São Jorge no estádio de Itaquera, essa decisão compete à diretoria e a seus associados. Vivemos em um País com liberdade religiosa e prezamos por esse direito, ainda que discordemos de certas práticas e venerações que não têm a aprovação de Deus. Nosso pastor José da Silva Netto, presidente do Campo Eclesiástico de Artur Alvim, também considera que essa seja uma responsabilidade do clube e de sua direção, enquanto a Igreja tem por prerrogativa pregar o amor de Cristo e conduzir as pessoas à salvação", completou o presbítero Sulivan.

O pastor Marcelo, por sua vez, concordou que é impossível conter "certas práticas e venerações", conforme definiu o representante da Igreja Avivamento Bíblico. "São coisas que fogem um pouco da nossa alçada, que não temos como prever", reconheceu o batista. Para o presbítero Sulivan, há uma maneira de se fazer ouvir mesmo diante de um São Jorge gigante: "Cremos que os jogadores que professam a fé cristã têm consciência de tudo o que desagrada ao senhor Deus e devam fazer a diferença, a exemplo de Daniel, quando escravo na Babilônia".
Divulgação


Fonte: TERRA

Um comentário:

Anônimo disse...
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