Parece mesmo que o amiguinho do Vaticano (Sarkozy), com ou sem alguma ajuda do eleitorado de direita, vai ser derrotado.
Passará a Igreja, sempre muito maleável, se Sarkozy for vencido, a bajular a esquerda?
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(JB)
- A história política da Europa sempre se decidiu entre os franceses,
os ingleses e os alemães, com eventuais – além das mais antigas –
intervenções das duas penínsulas, a itálica e a ibérica.
O quadro se repete agora, com as eleições francesas. O que se
decidir no segundo turno da disputa irá influir no destino imediato da
União Européia. Uma análise lógica do momento político avalia a
esperança da esquerda: dificilmente Sarkozy conseguirá virar o jogo e
derrotar Hollande. Não é certo que os eleitores da senhora Le Pen
descarreguem todos os seus sufrágios no nome do atual presidente.
À parte o voto ideológico, que não é decisivo, a extrema
direita francesa tem algumas das mesmas queixas da esquerda, diante do
governo, hesitante na condução da crise econômica, incapaz de combater o
desemprego e amenizar a ansiedade da classe média.
Há um ponto forte que une a extrema direita e a esquerda na
França – e de resto, em toda a Europa: o combate aos banqueiros. A
extrema direita tem incluído os banqueiros no rol de seus inimigos e,
de maneira equivocada, confundindo o sistema financeiro com os judeus.
Como se sabe, em conseqüência das circunstâncias históricas e das
restrições que lhes foram impostas, os hebreus se viram obrigados a
negociar com o dinheiro, e coube a poucas de suas famílias fundar e
administrar alguns dos maiores bancos da História. Mas isso não os faz
os responsáveis pelas falcatruas cometidas em Wall Street, onde predominam nomes anglossaxões, alguns mais saxões do que ingleses.
Como as eleições se decidem mais pela emoção do que pela
razão, é difícil desfazer o imaginário popular – o que faz de parcelas
alienadas do proletariado, em alguns momentos, o grupo social que decide
as eleições, votando, errado ou certo, na bandeira adversária. Sendo
assim, provavelmente a esquerda ganhará as eleições. Espera-se que ela
saiba atuar com a inteligência que faltou às frentes populares, que
ganharam as eleições de 1936, tanto na França quanto na Espanha, e que
abriram os dois grandes países à tragédia política que se seguiu. Nos
dois casos, a esquerda se perdeu, ao perder-se a presença moderadora do
centro político.
Foi assim que, menos de dois anos depois, ainda que o parlamento
continuasse o mesmo até 1940, a direita se infiltrou no governo, que,
com Daladier no lugar de Blum, desfez todas as medidas em favor dos
trabalhadores. Em conseqüência, em muitos subúrbios operários de Paris, a
extrema direita ganhou seus adeptos – o que debilitou a resistência
nacional diante da invasão alemã, levando à vergonhosa capitulação de
Pétain e Laval.
Na Espanha, com a razão política exacerbada nos extremos e o
malogro dos políticos do centro, as eleições de janeiro de 1936, que
levaram a esquerda à vitória, mobilizaram a extrema direita dos meios
militares, com o levante dos quatro generais fascistas e a brutalidade
da guerra civil espanhola. Os trabalhadores, envolvidos na tragédia,
morreram, de um lado e de outro: uns defendendo a República e outros,
envenenados pela propaganda clerical e falangista - na ilusão de que
defendiam Deus e a Nação.
Com a ajuda da Itália e da Alemanha e a acovardada posição de
neutralidade da França e da Inglaterra, Franco venceu e governou o país
com a abrutalidade conhecida, durante quase 40 anos.
As situações não se repetem de forma idêntica na História, mas
há coincidências alarmantes entre 1936 e 2012. Em 1936, a Europa se
encontrava no meio da crise econômica dos anos 30, provocada pela
terrível desigualdade social dos anos 20 que se prolongava no
continente. Essa desigualdade fora determinada pela acumulação cruel do
capital financeiro na globalização liberal do período que se seguiu à
Primeira Guerra Mundial.
A crise econômica e social promovera a xenofobia e o
anti-semitismo, em toda a Europa, e o surgimento de governos de direita
em outros países, além da Itália, da Alemanha e da Espanha.
Os judeus dos anos 30 foram substituídos, no ódio racista, pelos
muçulmanos de hoje. Embora o ódio anti-semita permaneça latente, não
se caçam mais judeus, mesmo porque o governo de Israel, conduzido por
direitistas, é um importante aliado contra a esquerda na Europa
contemporânea. Os mestiços, e não só árabes, pagam em dobro pela
estupidez do racismo.
Por tudo isso, é preciso ver a situação com cauteloso
ceticismo. Derrotado Sarkozy, como se prevê, ou vitorioso seu grupo, com
o apoio da senhora Le Pen, a situação continuará delicada, até que a
crise econômica seja vencida por uma política de intervenção decidida
dos estados na economia e na questão social. Se isso não ocorrer, todos
os presságios são inquietadores.
Fonte: Blog MAURO SANTAYANA
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