Islamistas enxergam possibilidade de revolução democrática ser anulada por decisões da corte
CAIRO — Na véspera do início da eleição presidencial, a Irmandade
Muçulmana do Egito fez alertas nesta sexta-feira sobre a situação
política e democrática do país, que o grupo vê sob ameaça após a Suprema
Corte Constitucional declarar o Parlamento inválido, a Junta Militar assumir o Poder Legislativo e Ahmed Shafiq, ex-premier do ex-ditador Hosni Mubarak, ter sua candidatura presidencial mantida.
Em um comunicado, a Irmandade, que tinha a maioria dos assentos
parlamentares, disse que as decisões indicavam que o Egito ruma para
“dias muito difíceis que podem ser mais perigosos do que os últimos dias
do regime Mubarak”. “Todos os ganhos democráticos da revolução podem
ser dizimados e anulados com a ascensão ao poder de um dos símbolos da
antiga era”, afirmou a nota.
Em sua página no Facebook, Mohammed
el-Beltagy, vice-presidente do Partido da Liberdade e Justiça, braço
político da Irmandade, chamou os últimos acontecimentos de golpe. As
mudanças no cenário político significam uma reviravolta para os
islamistas, que antes vislumbravam a possibilidade de conquistar a
Presidência através de Mohamed Mursi, para governar em pleno acordo com
sua maioria na Câmara baixa do Parlamento, após anos banidos sob o
regime de Mubarak.
Mesmo assim, após uma reunião na noite de
quinta-feira, a Irmandade Muçulmana optou por continuar na disputa das
eleições presidenciais que ocorrem neste fim de semana. Diversas
personalidades e figuras políticas também se manifestaram contra a
decisão da corte egípcia, e as opniões se dividem quanto ao rumo a tomar
na votação do segundo turno das eleições presidenciais, marcado para
sábado e domingo.
Escritor pede boicote à eleição presidencial
Abdel
Moein Abdulfutu, candidato islamista derrotado no primeiro turno,
afirmou que “manter o candidato militar e dissolver o Parlamento eleito
depois de permitir o Exército realizar detenções é um golpe de Estado
completo”.
Mohamed ElBaradei, ex-chefe da Agência Internacional de
Energia Atômica da ONU, escreveu em seu Twitter que "eleger um
presidente na ausência de uma Constituição e de um Parlamento é eleger
um ‘imperador’ com mais poderes que o ditador deposto".
Já Alaa
al-Aswany, um importante autor egípcio, foi mais direto e pediu aos
eleitores que boicotem as votações de sábado e domingo. “Se a Irmandade
Muçulmana levasse sua responsabilidade nacional a sério, iria pedir para
que as eleições fossem anuladas e realizadas novamente após Shafiq ser
desqualificado e julgado. Infelizmente, a Irmandade está repetindo todos
os seus erros”, escreveu al-Aswany em seu blog.
Para o escritor,
“o segundo turno é ilegítimo e será manipulado, assim como o primeiro
turno foi manipulado, para garantir que Shafiq assuma a Presidência”, e
quem se revoltar após sua posse será reprimido violentamente, afirmou.
“A
menos que demandas legítimas sejam atendidas (excluir Shafiq da
disputa, julgá-lo por corrupção e investigar denúncias de fraudes no
primeiro turno), eu não vou participar do segundo turno dessa farsa. No
dia da eleição, vou rasgar a minha cédula de votação. Se muitas pessoas
rasgarem suas cédulas, isso vai mandar uma mensagem poderosa de que as
eleições não são válidas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário