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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Irmandade Muçulmana alerta para ‘dias difíceis’ no Egito

Islamistas enxergam possibilidade de revolução democrática ser anulada por decisões da corte



Manifestantes foram à Praça Tahrir para protestar contra a Junta Militar que governa o Egito
Foto: MOHAMMED ABED / AFP

Manifestantes foram à Praça Tahrir para protestar contra a Junta Militar que governa o Egito MOHAMMED ABED / AFP
CAIRO — Na véspera do início da eleição presidencial, a Irmandade Muçulmana do Egito fez alertas nesta sexta-feira sobre a situação política e democrática do país, que o grupo vê sob ameaça após a Suprema Corte Constitucional declarar o Parlamento inválido, a Junta Militar assumir o Poder Legislativo e Ahmed Shafiq, ex-premier do ex-ditador Hosni Mubarak, ter sua candidatura presidencial mantida.
Em um comunicado, a Irmandade, que tinha a maioria dos assentos parlamentares, disse que as decisões indicavam que o Egito ruma para “dias muito difíceis que podem ser mais perigosos do que os últimos dias do regime Mubarak”. “Todos os ganhos democráticos da revolução podem ser dizimados e anulados com a ascensão ao poder de um dos símbolos da antiga era”, afirmou a nota.
Em sua página no Facebook, Mohammed el-Beltagy, vice-presidente do Partido da Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade, chamou os últimos acontecimentos de golpe. As mudanças no cenário político significam uma reviravolta para os islamistas, que antes vislumbravam a possibilidade de conquistar a Presidência através de Mohamed Mursi, para governar em pleno acordo com sua maioria na Câmara baixa do Parlamento, após anos banidos sob o regime de Mubarak.
Mesmo assim, após uma reunião na noite de quinta-feira, a Irmandade Muçulmana optou por continuar na disputa das eleições presidenciais que ocorrem neste fim de semana. Diversas personalidades e figuras políticas também se manifestaram contra a decisão da corte egípcia, e as opniões se dividem quanto ao rumo a tomar na votação do segundo turno das eleições presidenciais, marcado para sábado e domingo.

Escritor pede boicote à eleição presidencial

Abdel Moein Abdulfutu, candidato islamista derrotado no primeiro turno, afirmou que “manter o candidato militar e dissolver o Parlamento eleito depois de permitir o Exército realizar detenções é um golpe de Estado completo”.
Mohamed ElBaradei, ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, escreveu em seu Twitter que "eleger um presidente na ausência de uma Constituição e de um Parlamento é eleger um ‘imperador’ com mais poderes que o ditador deposto".
Já Alaa al-Aswany, um importante autor egípcio, foi mais direto e pediu aos eleitores que boicotem as votações de sábado e domingo. “Se a Irmandade Muçulmana levasse sua responsabilidade nacional a sério, iria pedir para que as eleições fossem anuladas e realizadas novamente após Shafiq ser desqualificado e julgado. Infelizmente, a Irmandade está repetindo todos os seus erros”, escreveu al-Aswany em seu blog.
Para o escritor, “o segundo turno é ilegítimo e será manipulado, assim como o primeiro turno foi manipulado, para garantir que Shafiq assuma a Presidência”, e quem se revoltar após sua posse será reprimido violentamente, afirmou.
“A menos que demandas legítimas sejam atendidas (excluir Shafiq da disputa, julgá-lo por corrupção e investigar denúncias de fraudes no primeiro turno), eu não vou participar do segundo turno dessa farsa. No dia da eleição, vou rasgar a minha cédula de votação. Se muitas pessoas rasgarem suas cédulas, isso vai mandar uma mensagem poderosa de que as eleições não são válidas”.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com

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