Tenho sérias dúvidas sobre as supostas ameaças, as quais, se realmente existiram, deveriam motivar uma reação contundente da Justiça, sob pena de desmoralização do Estado de Direito.
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Depois
da derrota em habeas corpus, o notório delinquente Carlinhos Cachoeira
e seus associados em concurso delinquencial externo lograram uma
vitória. Conseguiram intimidar um magistrado a ponto de ele deixar a
jurisdição da vara criminal onde correm os processos da chamada operação
Monte Carlo.
O
juiz Paulo Augusto Moreira Lima, que deferiu o pedido de grampos
telefônicos e impôs a prisão preventiva de Cachoeira “et caeterva”,
solicitou, e obteve, desligamento da vara criminal onde atuava em razão
de ameaças de morte a ele e aos seus familiares.
Ameaçado
e dinamitado pela Cosa Nostra siciliana em 1992, o juiz Paolo
Borsellino, que era constantemente ameaçado de morte, disse uma frase
fundamental para os que, por vocação, atuam como magistrados, quer
judicantes, quer no Ministério Público: “Quem tem medo morre todos os
dias. Quem não tem, morre uma vez só”.
A
saudosa e íntegra juíza fluminense Patrícia Acioli, que servia na 4ª
Vara Criminal da violenta comarca de São Gonzalo, teve pedido de escolta
negado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em ato do então
presidente Luiz Zveiter.
Patrícia
Acioli sabia que corria monumental risco de ser assassinada, mas nunca
deixou a jurisdição da 4ª vara. Nem quando o desembargador Zveiter
negou-lhe a escolta. Ela acabou assassinada no dia 11 de agosto de 2011,
com o corpo crivado por 21 disparos.
Lógico
que não se exige de nenhum magistrado o heroísmo de uma Patrícia
Acioli, que permaneceu sem proteção em ato do encastelado e bem
conhecido Luiz Zveiter.
Mas
no caso do afastamento do juiz Paulo Augusto Moreira Lima nem escolta e
proteção ele pediu. Quis se afastar, ou seja, cedeu às ameaças do crime
organizado.
Pano
rápido. Existem profissões de risco. Os policiais, peritos, delegados
de polícia, procuradores e promotores de Justiça e juízes devem
enfrentar os riscos e o Estado tem o poder-dever de dar-lhes proteção,
apesar dos Zveiter da vida não saberem.
Wálter Fanganiello Maierovitch
Fonte: TERRA
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