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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Novos romances sobre o nazismo se apegam a fontes históricas


MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA sãopaulo

 
Em 1933, William E. Dodd assumiu o cargo de embaixador dos EUA em Berlim, onde viu o regime de Hitler desvelar sua verdadeira face. Esse é o tema de "No Jardim das Feras", do jornalista norte-americano Erik Larson. Em 1942, dois paraquedistas do exército da ex-Tchecoslováquia foram protagonistas de um atentado em Praga que matou Reinhard Heydrich, oficial nazista conhecido como "o carrasco", "o açougueiro" e "a besta loira". Esse é tema de "HHhH", do francês Laurent Binet (vencedor do prêmio Goncourt de "Primeiro Romance" em 2010).
Em comum entre eles, além do tema, está a opção por um gênero híbrido, o "romance não ficcional", que repudia a invenção de diálogos ou cenas e se escora em fontes documentais. No caso de Larson, as pesquisas fornecem o registro íntimo de um drama mais amplo: a ingenuidade ou má-fé com que líderes políticos viram Hitler como mais um ditador, só percebendo seus desígnios totalitários quando já era tarde.

Divulgação
Erik Larson, autor de "No Jardimdas Feras"
Erik Larson, autor de "No Jardim das Feras"

O próprio Dodd é vítima dessa ilusão, que rui durante um banquete ao qual chegam notícias sobre a "Noite das Facas Longas", o expurgo do exército alemão que deu poderes ilimitados a Hitler. Dodd transforma-se então na "Cassandra dos diplomatas americanos", enquanto sua filha entra numa rede de conspirações como amante de oficiais e espiões.
E se o título do livro, extraído do bairro em que Dodd morava ("Tiergarten", jardim dos animais) é uma metáfora do Terceiro Reich, a ironia mais amarga aparece nos diários do embaixador, que comenta o amor extremo pelos bichos por parte cidadãos que não hesitam em denunciar seus vizinhos "traidores".
IMPASSES ÉTICOS
"HHhH" é mais complexo. Para além da Operação Antropoide, que eliminou um dos maiores genocidas da história, Binet expõe sua ambígua obsessão pela inteligência do "Reichprotektor" de Praga, cifrada nas iniciais da frase "Himmlers Hirn heisst Heydrich" ("o cérebro de Himmler se chama Heydrick", alusão ao trabalho metódico de executar a "solução final" proposta por Himmler).
O livro é um "work in progress" sobre impasses éticos. Ele se recusa a "romancear", a cair na obscenidade do entretenimento, lançando farpas contra "As Benevolentes", de Jonathan Littell (também vencedor do Goncourt): para Binet, esse romance narrado por um SS fictício é obra de um "niilista pós-moderno", um "Houellebecq entre os nazistas".
Enquanto descreve suas enquetes, porém, Binet vê suas prateleiras lotarem de livros e filmes sobre o Holocausto, e percebe o risco de que a serpente nazista esteja novamente se insinuando, na forma de um fascínio travestido de rigor histórico.
Formado em literatura, Binet insere em "HHhH" várias reflexões sobre os desvios que a imaginação romanesca produz em relação à história -o que não o impede de, ao final, reconstituir com prazer sádico o assassinato do perverso Heydrich.
Fonte: FOLHA DE SP

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