No dia 4 de junho de 1962 foi pronunciada a sentença de prisão perpétua contra Vera Brühne. Estrela da alta sociedade e primeira Miss Alemanha, ela protagonizou um dos crimes mais misteriosos da história do país.
Vera Brühne diante do tribunal
No dia 14 de abril de 1960, haviam sido encontrados os cadáveres do
médico Otto Praun, 60, e de sua empregada Elfriede Kloo, 50, numa mansão
em Pöcking, à beira do Lago Starnberger, na Baviera.
Praun era dono da mansão e possuía ainda duas casas geminadas e uma
fazenda na Espanha. A primeira conclusão das investigações foi que o
médico assassinara a empregada – supostamente uma de suas amantes – e,
em seguida, num ato de desespero, cometera suicídio. Para a polícia, o
caso parecia esclarecido.
"Foi uma investigação malfeita", lembra o advogado Konrad Kittl, de
Munique. Os cadáveres não foram examinados por um médico legista e os
investigadores não estiveram no local para a perícia. A pedido do filho
de Praun, Kittl reinvestigou o caso. Os cadáveres foram exumados e a
autópsia revelou que o médico e a empregada haviam sido assassinados com
tiros na cabeça. Só aí se descartou a tese do homicídio seguido de
suicídio.
Pista reveladora
A polícia reconstruiu o duplo assassinato. Johann Ferbach, de 48 anos,
velho conhecido de Vera Brühne, havia disparado os tiros, mas cometeu um
erro fatal. Esqueceu uma carta escrita em papel azul no local do crime.
Brühne pediu a Ferbach que voltasse à mansão para buscar a carta, mas
ele se negou.
A carta – inicialmente desprezada pela polícia – mencionava um certo
Dr. Schmitz, apelido usado por Johann Ferbach, preso a 4 de outubro de
1961, um ano e meio depois do duplo assassinato. Tratava-se de um
escândalo social. Vera Brühne, primeira Miss Alemanha, filha do prefeito
da cidade de Kray, na Renânia do Norte-Vestfália, e estrela da alta
sociedade, negou veementemente sua participação no crime.
Desde 1957, ela era amante de Praun, divorciado, que lhe prometera uma
fazenda na Espanha. O médico, no entanto, falava em separar-se de Brühne
e pretendia vender a fazenda, o que sugeria um clássico motivo de
assassinato. Além disso, Sylvia, filha do casamento de Vera Brühne com o
então ator Hans Cussy, declarou diante do tribunal que a mãe lhe havia
confessado o crime. Mais tarde, Sylvia negaria essa declaração.
Sentença baseada em indícios
O julgamento em Munique foi um espetáculo para a imprensa. Brühne não
se deixou impressionar pela opinião pública e insistiu até o fim na
inocência, sem perceber que afundava em contradições. A polêmica
sentença baseada em indícios foi promulgada no dia 4 de junho de 1962:
prisão perpétua para Johann Ferbach e Vera Brühne, que contava então 52
anos de idade. Oito anos depois, Ferbach morreu de infarto na cadeia.
Numa penitenciária feminina do Estado da Baviera, Brühne ainda recorreu
da sentença várias vezes, sem sucesso. No dia 15 de dezembro de 1979,
obteve indulto do governador Franz Josef Strauss. Depois de 18 anos,
dois meses e 12 dias na cadeia, Brühne reintegrou-se à alta sociedade
muniquense. Até o fim da vida ela garantiu: "Tenho Deus como testemunha
de que não estive envolvida nos assassinatos".
Vera Brühne faleceu em 2001, aos 91 anos. Enigmática, charmosa e
carismática, ela virou um mito. Sua vida foi filmada para a TV pelo
diretor Bernd Eichinger e documentada em forma de CD.
(gh)
Fonte: DEUTSHE WELLE
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