Pela primeira vez sediada ao
leste da antiga “cortina de ferro”, a Eurocopa, que começou na
sexta-feira, era para ser o símbolo de união dos europeus, por anos
divididos pela Guerra Fria. Mas o clima de integração, representado pela
escolha de Ucrânia e Polônia como sedes, acabou ofuscado pela crise
econômica que ameaça a Europa, acusações de racismo nos estádios,
boicotes e tensão política doméstica.
O governo britânico anunciou na quinta-feira que
não enviará representantes oficiais aos jogos porque não quer que o
apoio à seleção do país seja interpretado como um apoio à administração
do presidente ucraniano Viktor Yanukovych.
Com isso, juntou-se a um boicote de
autoridades oficiais aos jogos na Ucrânia ao qual já haviam aderido
Alemanha, Bélgica, Áustria e República Tcheca. O presidente da Comissão
Europeia, José Manuel Barroso, e a Comissária de Justiça do bloco,
Viviane Reding, também decidiram não participar da cerimônia de abertura
da Eurocopa.
Boicote
A principal causa do boicote são as acusações de
que a ex-premiê da Ucrânia, Yulia Tymoshenko, condenada a sete anos de
prisão em outubro por abuso de poder e desvios de verbas, estaria
sofrendo maus tratos na prisão. Tymoshenko foi uma das líderes da
chamada Revolução Laranja, em 2004, e acusa o governo ucraniano de
perseguição política.
Segundo o porta-voz Ministério das Relações
Exteriores da Ucrânia, Oleg Voloshin, o boicote não afetaria o caso de
Tymoshenko. "Esporte e política não deveriam se misturar", disse o
embaixador da Ucrânia em Londres, Volodymr Khandogiy.
"Na verdade existe um uso seletivo dessa ideia
de que esporte e política devem caminhar por vias distintas", diz o
historiador Kevin Jefferys, da Universidade de Plymouth, que estuda a
relação entre esporte e política.
Jeffreys lembra os jogos Olímpicos de 1980, em
Moscou, boicotados pelos EUA e outras seis dezenas de países em protesto
contra a invasão soviética ao Afeganistão - e seguido de um boicote da
Olimpíada de Los Angeles pelo bloco comunista. Para o historiador, essa
experiência prova que tais boicotes são pouco eficientes em atingir seus
objetivos.
Simon Kuper, autor de "Soccernomics" (publicado
no Brasil pela editora Tinta Negra) e de "Soccer Against the Enemy"
(Futebol contra o Inimigo), discorda. "Em geral líderes autoritários que
realizam grandes eventos esportivos, aproveitam a exposição
internacional para ganhar legitimidade, e os boicotes podem ao menos dar
ao público interno a percepção de que a comunidade internacional não é
conivente com o regime."
Racismo
Para Jeffreys, a questão que pode causar mais
problemas nesta Eurocopa está relacionada às denúncias de racismo. Na
segunda feira, a exibição de um documentário da BBC abriu um debate
sobre a a ação de grupos neo-nazistas e racistas em jogos na Polônia.
Entre as cenas polêmicas estavam o espancamento de asiáticos que
assistiam aos jogos e a troca de saudações nazistas entre os torcedores
radicais.
O governo polonês protestou contra o documentário, que considerou exagerado.
Na quarta-feira, porém, o capitão da seleção da
Holanda, Mark van Bommel, disse que durante um treino em Cracóvia,
jogadores negros teriam sido alvo de manifestações racistas pela parte
de torcedores poloneses, embora a equipe tenha decidido não fazer uma
queixa formal sobre o incidente.
"Manifestações como essas sempre foram um
problema no futebol polonês", afirma Kuper. "A exposição para um público
europeu e o debate sobre o tema ao menos força as autoridades do país a
tomarem uma atitude para reprimir tais práticas racistas."
Fonte: BBC
Nenhum comentário:
Postar um comentário