David Cameron quer ir além de união civil, mas sofre com resistência religiosa
LONDRES — Com o plano do premier David Cameron para legalizar o
casamento entre pessoas do mesmo sexo, o governo britânico ruma para um
intenso conflito com líderes da Igreja Católica e Anglicana.
Apenas
dois dias antes do fim do prazo para respostas públicas ao plano, a
Igreja da Inglaterra e bispos católicos insistiram, em comunicados
públicos, que o casamento constitui somente a união de um homem com uma
mulher.
Cameron foi retratado como um ardente apoiador do
casamento gay, que vai além das leis existentes há oito anos que
abrangem a união civil de homossexuais. De alguma maneira, o debate
britânico reflete os argumentos dos EUA sobre o apoio do presidente
Barack Obama ao casamento gay.
A proposta para legalizar as uniões
entre pessoas do mesmo sexo ameaça não apenas provocar uma briga com a
Igreja e líderes muçulmanos como também dividir o Partido Conservador de
Cameron. Os conservadores já enfrentam problemas por causa de mudanças
em suas políticas e acusações de que estariam próximos demais dos ricos e
poderosos do Reino Unido. A ação também pode aprofundar as tensões
internas da coalizão, já que Cameron disse que os legisladores do
partido podem votar na proposta de acordo com sua consciência, enquanto o
líder dos Liberais Democratas, Nick Clegg, quer que todos os
representantes do partido no Parlamento aprovem a legislação proposta.
Na
nota divulgada nesta terça-feira, a Igreja da Inglaterra afirmou: “O
casamento traz benefícios para a sociedade de várias formas, não apenas
ao promover reciprocidade e fidelidade, mas também pelo reconhecimento
de uma complementaridade biológica básica que inclui, para muitos, a
possibilidade da procriação. A lei não deve procurar mudar o caráter
objetivo, essencial e distinguível de homens e mulheres. A Igreja apoia a
remoção de desigualdades legais e materiais anteriores entre parceiros
heterossexuais e do mesmo sexo. Mudar a natureza do casamento para todos
não vai acrescentar novos ganhos legais àqueles que já possuem a união
civil”.
O bispo de Sheffield, reverendo Steven Croft, disse que as
propostas do governo representam uma “mudança muito, muito fundamental
para uma instituição que tem estado no cerne de nossa sociedade por
centenas de anos e que, para a Igreja, não são um problema de convenção
social, mas de doutrina e ensinamentos cristãos”.
Já os bispos da
Igreja Católica da Inglaterra e do País de Gales afirmaram, em
comunicado: “Pelo interesse de preservar a exclusividade do casamento
como uma instituição civil para o bem comum da sociedade, nós
encorajamos fortemente que o governo não avance com as propostas
legislativas que vão ‘permitir que todos os casais, independente de seu
sexo, tenham uma cerimônia de casamento civil’”.
A postura
assumida pelas instituições religiosas provocou uma resposta contundente
dos ativistas de direitos gays. Ben Summerskill, chefe da Stonewall,
acusou a Igreja da Inglaterra de orquestrar uma “aula em alarmismo
melodramático”. Segundo ele, os líderes religiosos estão promovendo a
crença de que “isso (a proposta) é, de alguma forma, o maior levante
desde o saqueamento dos monastérios na Idade Média”.
Por causa da
queda da participação dos britânicos nas Igrejas, apenas um de cada
quatro casamentos feitos hoje em dia são conduzidos na igreja.
O
problema do casamento gay é apenas uma das várias questões sobre gênero e
sexualidade que envolvem a Igreja da Inglaterra. Lá, mulheres são
aceitas como padres, mas ainda existe uma disputa para permitir que
sejam ordenadas como bispos.
Segundo um integrante do governo
britânico, as propostas de Cameron não forçariam os líderes religiosos a
conduzir as cerimônias de casamento em locais de culto.
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