Em sua primeira declaração pública sobre o escândalo no Vaticano, que
também está sendo chamado "Vatileaks", o cardeal secretário de Estado do
Vaticano, Tarcisio Bertone, classificou a divulgação de documentos da
sede da religião católica como "ataques instrumentalizados contra o
Papa".
Esse tipo de ataque sempre existiu, em todos os tempos, comentou ao
jornal TG1, da TV italiana Rai. Porém, desta vez, eles são "mais
direcionados, por vezes também ferozes, dilacerantes e organizados". No
entanto, Bento 16 não se deixará intimidar, assegurou.
Referindo-se às "cartas roubadas", Bertone confirmou que elas são
importantes, "mas as relações pessoais são muito mais". "O mais triste
nestes eventos e nestes fatos é a violação da privacy do Santo
Padre e de seus colaboradores mais próximos". Porém todos os que estão
próximos e trabalham com o chefe da Igreja Católica estariam sustentados
por sua "grande força moral".
Outros informantes?
Prédio do Banco do Vaticano
Nos últimos meses, várias vezes, documentos internos da Santa Sé
chegaram às mãos da imprensa italiana. Em parte, trata-se de cartas
pessoais ao Papa. Entre outros aspectos, os papéis apresentam indícios
de corrupção e nepotismo de representantes da instituição católica e do
Estado em contratos com empresas nacionais. Outros contêm críticas à
diretoria do Banco do Vaticano.
Entre os protagonistas do escândalo "Vatileaks" na Itália estão o jornal Il Fatto Quotidiano e o jornalista Gianluigi Nuzzi, que publicou o livro Sua Santità. Le carte segrete di Benedetto XVI (Sua Santidade – As cartas secretas de Bento 16).
Duas semanas atrás, Paolo Gabriele, mordomo de Bento 16, foi preso,
acusado de furtar documentos confidenciais. Consta que durante a semana
em curso ele teria sido interrogado por investigadores do Vaticano, e
que haveria declarado sua disposição de colaborar.
No entanto, como nesta segunda-feira (04/05) mais documentos foram
entregues à mídia, não se exclui a possibilidade de que haja outras
fontes de vazamento de informações. O jornal italiano La Repubblica noticiou haver recebido de um informante anônimo três novos papéis confidenciais.
Lama no ventilador
Na entrevista à Rai, Tarcisio Bertone sublinhou que "estes não têm sido
e não são dias de divisão, mas de unidade. E quero acrescentar que são,
acima de tudo, dias de força da fé, de serenidade firme, também nas
decisões. É o momento de coesão de todos os que querem servir
verdadeiramente à Igreja".
O cardeal, número dois dentro da hierarquia do Vaticano, logo atrás do
Papa, é no momento, ele próprio, alvo de críticas, devido a seu estilo
de liderança. Diversos observadores interpretam a publicação dos
documentos confidencias como uma tentativa de obrigá-lo a renunciar.
Cardeal Tarcisio Bertone
Falando ao jornal La Stampa, o especialista em história do
Cristianismo Alberto Melloni é lapidar: "Parece-me um ataque ao Papa, da
parte de quem quer lhe dizer: 'Errou na escolha do secretário de Estado
e errou ao não trocá-lo'".
Sobre o livro de Gianluigi Nuzzi, ressalva não se tratar de "cartas
secretas", mas sim da correspondência privada do Papa. "Parece-me que
não há quase nada de novo. O problema é de quem produz essa lama e a
joga no ventilador. E não acho nem mesmo que se possa invocar o direito
de crônica", atacou o professor da Universidade de Modena.
AV/dw/afp/dpa/dapd
Revisão: Roselaine Wandschee
Fonte: DEUSTSCHE WELLE (Alemanha)
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