Mais de cem casas do século 18 enfileiradas – de tijolo aparente
e janelas de madeira com caixilhos brancos. No centro de Potsdam, nas
imediações de Berlim, encontra-se no Bairro Holandês um pedacinho do
país vizinho.
As casas geminadas de tijolos vermelhos são como um pedaço singelo da
Holanda em meio aos magníficos edifícios prussianos de Potsdam, capital
do estado alemão de Brandemburgo. No Bairro Holandês, turistas passeiam
pelas ruelas e tentam capturar a atmosfera local com suas câmeras
fotográficas.
Além da arquitetura, é possível degustar sabores holandeses num dos muitos cafés dos bairro, que servem especialidades como os Poffertjes – espécie de minipanquecas cobertas com açúcar de confeiteiro e pedacinhos de manteiga.
Ao caminhar pelos arredores, Hans Göbel para diversas vezes para
conversar com donos de galeria e lojistas. Como presidente da Associação
de Apoio à Preservação da Cultura Holandesa em Potsdam, ele conhece o
local como poucos. "Os prussianos construíram o bairro com a perfeição
alemã. Na própria Holanda não há uma área residencial tão fiel a esse
estilo de construção."
Turistas e moradores apreciam cerveja holandesa em bares locais
Cenário holandês, atmosfera internacional
O construtor do bairro foi o holandês Jan Bouman. Em meados do século
18, ele foi encarregado pelo rei da Prússia Frederico Guilherme 1º de
drenar os pântanos locais e erguer ali um bairro residencial em estilo
holandês. Para isso, deveria-se estimular a vinda de operários
holandeses, que naquela época estavam entre os melhores da Europa.
Apesar de ter sido prometido que os trabalhadores receberiam as casas
de presente, a estratégia falhou. Não vieram tantos operários do país
vizinho como se esperava, e comerciantes franceses e prussianos,
artistas e soldados mudaram-se para as residências em seu lugar.
Ainda hoje a atmosfera do bairro é internacional. Nas casas antigas, há
comida italiana, artesanato alemão e boutiques francesas. Apenas nos
bares locais é servida cerveja holandesa. "Ela é muito apreciada. E não
somente pelos turistas, mas também pelos moradores", diz um
proprietário.
Antigo esplendor
Göbel: "Na própria Holanda não há uma área residencial tão fiel a esse estilo de construção"
Nas 134 casas de estilo holandês vivem atualmente cerca de mil
pessoas. Göbel rendeu-se ao charme do local há mais de 25 anos. "A
atmosfera do bairro facilitou as coisas", lembra-se. Natural de Leipzig,
no leste alemão, ele mudou-se com a família para Potsdam em meados dos
anos 1980 e reformou ele mesmo uma das casas na rua central. Ele foi um
dos primeiros a fazê-lo.
Nos tempos da Alemanha dividida, quase todas as casas do bairro estavam
prestes a ruir. Poucos anos antes, houve até mesmo planos de demolir os
prédios antigos, mas moradores engajados conseguiram impedir. Após a
queda do Muro de Berlim, a maior parte das casas foi restaurada – e sob
condições estritas. Todas elas são tombadas pelo patrimônio histórico e
não podem ter a fachada alterada. Além disso, a aparência do bairro como
um todo deve ser preservada.
Tal desafio serviu de estímulo para Göbel. Como diretor da
administração das construções, ele se ocupava dos edifícios da
Universidade de Potsdam e, após o fim do expediente, o trabalho
continuava em casa. Hoje, quase todas as casas do Bairro Holandês
brilham com seu antigo esplendor novamente.
Após a queda do muro de Berlim, casas foram restauradas e declaradas patrimônio histórico
Museu e festas
Uma das residências ainda transmite aos visitantes uma noção autêntica
de como era a vida no século 18: a casa de Bouman, no centro do bairro,
que abriga um museu administrado pela Associação Cultural Holandesa.
Além de uma exposição sobre a história do local, os cômodos exibem
móveis e utensílios domésticos dos primórdios do bairro, como uma grande
lareira, um tear e um fogão à lenha.
A localidade é popular entre os turistas. Somente para destaques
culturais como o festival da tulipa, em abril, dezenas de milhares
visitam o local a cada ano. "Há música tradicional, muitas flores e todo
tipo de queijo. Um programa completo", conta Göbel. E, então, mais de
200 anos após a construção do bairro, realiza-se o desejo de seu
fundador: à convite da Associação Cultural, ônibus inteiros vêm do país
vizinho. Assim, pelo menos por um breve período, o bairro finalmente é
habitado por holandeses.
Autor: Theresa Tropper (lpf)
Revisão: Carlos Albuquerque
Fonte: DEUTSCHE WELLE
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