Seis anos após uma operação policial expor a máfia das ambulâncias, apenas cinco ex-deputados foram condenados, todos em primeira instância, e os processos envolvendo parlamentares da atual legislatura ainda se arrastam
Luiz Antônio Vedoin, da Planam: propina em troca de emendas
(Beto Bsarasta/AE)
O caso dos sanguessugas, que estourou em meados de 2006, foi o
escândalo que enlameou de vez a 52ª legislatura do Congresso Nacional - a
mesma dos vampiros, mensaleiros e que tais. Em 4 de maio de daquele
ano, uma operação da Polícia Federal revelou um esquema rústico de
pagamento de propina a parlamentares em troca de 10% do valor das
emendas. A fraude ocorreu na compra de mais de 1.000 ambulâncias para
prefeituras de seis estados e ao longo de cinco anos causou prejuízos de
110 milhões de reais, segundo as investigações. O escândalo entra hoje
para a Rede de Escândalos,
de VEJA.com. Com isso, a ferramenta lançada em 9 de dezembro, Dia
Mundial de Combate à Corrupção, passa a colecionar 61 casos envolvendo
quase 330 parlamentares, chefes do executivo, burocratas, lobistas,
empresários, juízes, entre outros personagens.
O escândalo dos sanguessugas se desdobrou em CPI, que se arrastou ao
longo de um ano eleitoral e lançou suspeita sobre nada menos que 87
deputados e 3 senadores de 10 partidos - cerca de 15% dos parlamentares
em exercício. Na Justiça, o caso tem ainda hoje mais de 500 réus,
incluindo parlamentares, prefeitos, servidores e empresários. A grande
maioria das ações penais tramita no Mato Grosso, sede da empresa Planam,
de Darci e Luiz Antonio Vedoin. Conforme levantamento feito pela
Justiça Federal, a pedido de VEJA.com, apenas 66 processos foram
julgados, com 39 condenações, incluindo a de cinco ex-deputados, todas
em primeira instância. Só duas sentenças estão em fase de execução, uma
contra uma funcionária da Planam e outra contra um assessor parlamentar -
ambas as penas são de prestação de serviço, em regime aberto, além de
indenização.
Nenhum político foi punido por seus pares no Congresso, mas a imensa
maioria sumiu de Brasília. Uma minoria resistiu ao escândalo e se
reelegeu em 2006 ou 2010. Da atual legislatura, há 11 deputados e 1
senador alvos de inquéritos ou ações penais, que em sua maioria correm
no STF sob segredo de Justiça. São eles: os deputados Josué Bengtson
(PTB-PA), Benjamin Maranhão (PMDB-PB), Heleno Silva (PRB-SE), Eduardo
Gomes (PSDB-TO), Jefferson Campos (PSD-SP), Paulo Feijó (PR-RJ), José
Airton (PT-CE), Pedro Henry (PP-MT), Wellington Fagundes (PR-MT),
Wellington Roberto (PR-PB), Nilton Capixaba (PTB-RO) e o senador Magno
Malta (PTB-ES).
Mais do que entender como funcionavam os esquemas por trás de cada um
dos casos, a rede vai esclarecer o destino que tiveram seus personagens.
O compromisso não é apenas o de revisitar o passado, ressaltando as
lições que o país aprendeu (ou desperdiçou) em cada episódio. É também o
de manter o leitor informado sobre o desenrolar de investigações e
julgamentos – e sobre o destino daqueles que em algum momento, ou
repetidamente, atentaram contra o bem público. A corrupção,
infelizmente, está longe de ser refreada no Brasil.
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