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quarta-feira, 13 de junho de 2012

NACIONALIZAÇÃO DA YPF


Uma nova rodada
O governo argentino acusa os antigos proprietários da YPF de ter distribuído 90% dos lucroas da empresa aos acionistas, e que a produção de petróleo caiu 20% desde 2004
por Serge Halimi

A hora da mudança é agora... Encorajada pela vitória eleitoral, a chefe de Estado impõe sua vontade ao governador do Banco Central, institui o controle do câmbio e anuncia que vai nacionalizar um setor-chave da economia há treze anos entregue à iniciativa privada. Dois membros do governo, nomeados por decreto para dirigir a grande empresa tornada novamente pública, imediatamente afastam os antigos patrões. A Comissão Europeia, o Wall Street Journale o Financial Times (“um ato mesquinho de pirataria econômica”) não contêm a cólera. A revista The Economistchega a recomendar que o país “pirata” seja excluído do G20 e que seus cidadãos (que votaram mal) não possam mais viajar para o estrangeiro sem visto.
O Estado em questão não se situa no Velho Continente. Trata-se da Argentina. “Somos o único país da América Latina, e eu diria do mundo, que não controla seus recursos naturais”, defendeu a presidente Cristina Kirchner, no dia 16 de abril, ao nacionalizar o grosso dos ativos da transnacional espanhola Repsol, até então acionista majoritária da companhia petrolífera argentina YPF. A regra da propriedade pública é menos universal do que sugere Kirchner – Total, BP, Exxon etc. são todas empresas privadas –, mas ela remete a outras lutas pela reapropriação da riqueza coletiva: a nacionalização da British Petroleum por Mohammad Mossadegh no Irã, em 1951; a do Canal de Suez por Gamal Abdel Nasser no Egito, em 1956; a dos ativos argelinos da Elf e da Total por Houari Boumedienne, em 1971; a venda da Yukos por Vladimir Putin na Rússia, em 2003. Sem mencionar a tomada do controle da PDVSA por Hugo Chávez, na mesma época, na Venezuela.
O governo de Buenos Aires acusa os antigos proprietários da YPF de ter distribuído 90% dos lucros da empresa aos acionistas. Por falta de investimento, a produção nacional de petróleo caiu 20% desde 2004, e as importações de energia aumentaram vinte vezes. Uma situação ainda mais lamentável quando se sabe que a Argentina, que aprendeu com uma dolorosa experiência, não quer mais depender de credores estrangeiros (menos ainda do FMI) para equilibrar suas contas.
Bem recebida pelo povo, a audácia do governo argentino rendeu-lhe pedidos de indenização absurdos, ameaças de boicote comercial e as mais sombrias profecias. Mas Buenos Aires já conhece as aves de mau agouro. Em 2001, quando a Argentina, exausta, deixou de pagar sua dívida e desvalorizou a moeda, predisseram-lhe crise da balança de pagamentos e falência econômica.1 Desde então, suas contas externas tornaram-se superavitárias, a produção aumentou 90% e o desemprego e a pobreza caíram.2 Em vez de se solidarizar com os acionistas da transnacional espanhola, a Europa ganharia mais se deixando inspirar pela vontade política da Argentina.

Serge Halimi é o diretor de redação de Le Monde Diplomatique (França).

Ilustração: Alves

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