Eduardo Moreira é sócio-fundador da gestora de recursos Plural Capital.
No próximo dia 24, o economista brasileiro Eduardo Moreira, de 36 anos,
sócio-fundador da gestora de recursos Plural Capital e ex-sócio do
Banco Pactual (hoje BTG Pactual) será homenageado com um certificado
entregue diretamente das mãos da rainha Elizabeth II, no Castelo de
Windsor, na Inglaterra. A homenagem, contudo, de nada tem a ver com seus
mais de 13 anos de experiência no mercado financeiro, mas sim com seu
esforço, nos últimos anos, para eliminar o uso da violência no
treinamento de cavalos no Brasil.
Após
fazer o curso com o domador Monty Roberts (esq.), Eduardo Moreira
(dir.) ficou amigo do americano e passou a difundir a técnica da doma
gentil no Brasil (Foto: Arquivo pessoal)
A premiação acontecerá na final de um campeonato de polo, no Guards
Polo Club (clube de polo que fica em Windsor). Além de Moreira, outras
nove pessoas receberão a homenagem da rainha Elizabeth II (entre eles
outros dois brasileiros, peões que trabalham com Moreira, e jogadores de
polo), todas indicadas pelo domador norte-americano Monty Roberts, de
77 anos, responsável pela difusão, ao redor do mundo, do método da doma
gentil de cavalos.
Moreira, inclusive, afirma que será o primeiro brasileiro a receber o
tipo de homenagem da rainha. "Essa condecoração, com certeza serei o
primeiro, até porque ela não existia", relata.
O pontapé inicial que fez Moreira acrescentar à sua vida uma nova
preocupação além do já "preocupante" mercado financeiro e ser indicado
por Roberts foi, literalmente, uma queda do cavalo.
Em 2009, o carioca, que já vive há mais de dez anos na capital
paulista, adquiriu uma fazenda no interior de São Paulo e resolveu
comprar uma égua pela internet. “Fui montar, o cavalo era super bravo e
levei um tombo”. Ele quebrou o tornozelo, além de ter sofrido rupturas
musculares nas costas pelo trauma da queda. Os meses que sucederam o
acidente, além de preenchidos com o tratamento para a recuperação (foram
duas semanas de cama e seis meses de fisioterapia), acabaram sendo
responsáveis por apresentá-lo a Roberts, autor do livro “O homem que
ouve cavalos” – que inspirou, inclusive, o filme “O encantador de
cavalos”, de Robert Redford.
Como havia sofrido o acidente, Moreira foi presenteado por um amigo com
o livro, que fala da vida do autor e da técnica chamada por ele de
"Join Up", um treinamento sem o uso da violência, basicamente por meio
da troca de gestos e olhares com o animal. “Li e fiquei super
interessado em conhecer Monty Roberts”.
Moreira viajou para a Califórnia, onde vive o domador, e fez um curso
de cinco dias no qual Roberts faz apresentações de seu método. “Nesse
período fiquei muito amigo dele (...). Voltei para o Brasil e tentei
fazer o mesmo. Foi quando comecei a notar que eu tenho esse dom”,
revela.
O economista afirma que apenas observou como o americano agia com os
cavalos e já aprendeu a técnica. Antes, ele conta que sequer tinha
contato com cavalos – a égua da qual levou o tombo foi a primeira que
comprou (hoje, contudo, há 15 cavalos em seu sítio).
Impressionado com os resultados do modelo de Roberts, Moreira relata
que sentiu a necessidade de difundir a prática pelo Brasil. Desde que
adotou a causa, calcula que já fez apresentações pelo país com mais de
400 cavalos. Em todas as vezes, são levados animais selvagens para ele
domar. “Nunca deu errado”, garante. Ele diz não cobrar nada pelas
demonstrações. “Mosto para todo mundo que o método violento não é o mais
eficiente”, afirma.
O economista diz acreditar ser importante difundir a técnica porque o
método tradicional de doma é muito duro. “Amarra, priva o cavalo de
alimentação para deixá-lo mais fraco. Demora umas seis semanas e vários
não aguentam e morrem”, diz. Pelo treinamento de Roberts, Moreira se
comunica com o cavalo de forma a conseguir domá-lo em 25 minutos, diz,
sem praticamente tocar no animal.
“É muito importante não julgar aquele que bate. Enquanto as pessoas não
têm uma forma nova apresentada, elas não podem ser julgadas por fazerem
aquilo que sempre aprenderam”, diz. “Depois que a pessoa vê a
apresentação, ela chega em casa e não consegue bater no cavalo”,
salienta.
No método de doma 'Join-up', praticamente não se toca no cavalo (Foto: Arquivo pessoal)
A habilidade do economista é inclusive reconhecida por Roberts, que falou ao G1
sobre a homenagem. “Moreira foi meu aluno por um período muito curto.
Ele é um homem talentoso, física e mentalmente. Aprendeu em cinco dias
tanto quanto muitos de meus alunos aprendem em dois, três anos”, afirma.
“Eduardo não só aprendeu os meus conceitos e os executou como tem sido
uma influência na causa para se fazer o mesmo”, disse.
Na opinião do escritor, a rainha Elizabeth II é a líder que tem o maior
poder de influência nos tempos atuais, levando em conta o alto número
de pessoas que atinge, daí a importância da homenagem. “Ela [a rainha]
ficará para a história como o líder mundial que mais influenciou, de
forma positiva, a relação do homem com os animais na terra”, opina.
Esta não será a primeira vez, aliás, que Roberts estará envolvido em
homenagens da rainha da Inglaterra. Em 2011, o domador americano foi
condecorado por ela como Membro da Ordem Vitoriana (Member of the Royal
Victorian Order, M.V.O, em inglês), com uma medalha citando seus
trabalhos em prol dos estábulos reais.
Desta vez, além de Moreira, os outros oito homenageados pela rainha
indicados por Roberts por incentivar a doma sem violência na América
Latina são os dois peões brasileiros que trabalham com o economista,
Carlos Leite e Mateus Ribeiro, além dos jogadores de polo Adolfo
Cambiaso (Argentina), Carlos Gracida e Memo Gracida (Mexico), Joel Baker
(USA) e Satish Seemar (Dubai). Também será homenageada Catherine
Cunningham, da Guatemala, que trabalha com Roberts. Segundo Moreira,
Leite e Ribeiro não poderão comparecer à entrega do prêmio pela rainha. O
economista receberá os certificados e os trará ao Brasil, onde serão
entregues aos dois em um evento em julho em Belo Horizonte, com a
presença de Roberts.
O domador americano afirma que a disseminação da técnica gentil nas
Américas do Sul e Central, além do México, é importante, pois o treino
violento ainda é muito comum nesses lugares. "O domador atual tende a
deixar de lado o antigo método a partir do momento que ele fica sabendo
que a doma sem violência é mais efetiva", disse.
Após ler o livro de Roberts, 'O encantador de
cavalos', Moreira acabou escrevendo seu próprio
livro, 'Encantadores de vidas'
(Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
Livro
O acidente com o cavalo, porém, não foi o
único episódio que marcou a vida de Moreira. Em dezembro de 2010, o
economista sofreu um segundo tombo: foi correr para pegar um táxi num
dia de chuva e escorregou. “Foram sete ossos completamente quebrados no
pé e perna esquerdos”. Para a recuperação, conheceu uma segunda pessoa
que considera como um ‘inspirador’, o preparador físico Nuno Coba (que
trabalhou com Ayrton Senna). Moreira diz ter aprendido muito com Cobra,
tendo em vista a reabilitação que teve – em dois meses tirou o gesso e
já andava sem o auxílio de muletas. "Eu tinha, segundo os medicos, 80%
de chance de perder o pé", conta.
O contato com Roberts e Cobra levaram Moreira a escrever um livro,
“Encantadores de vidas”, da editora Record. Os ganhos com as vendas são
usados para doações. Entre os destinos está um instituto de Roberts que
promove a equoterapia e a mensagem de não violencia pelo mundo, diz.
'Perdeu o juízo'
Quando fala sobre a premiação da rainha, o economista se diz orgulhoso.
“Quando eu vim para o Brasil, há três anos, e comecei a fazer isso [o
trabalho com os cavalos], todo mundo falou ‘um cara do mercado
financeiro, sócio de banco, ele enlouqueceu, não está com nada na
cabeça, perdeu o juízo’”, revela. Moreira acrescenta que ouviu de muita
gente que ele “estava querendo aparecer” ou “jogando fora a oportunidade
de ganhar dinheiro”. “Foram três anos brigando com o mundo e do e do
nada receber um negócio desse, para mim é uma vitória que não consigo
nem expressar”, diz.
Moreira frisa que, ao contrário do que muitos disseram, não perdeu
dinheiro com a dedicação à causa. “Eu disponho uma grande parte do meu
tempo livre [para as apresentações com os cavalos], eu não tirei uma
hora do meu trabalho no mercado financeiro por causa disso (...). Se
você acredita numa coisa que gosta, que acha que é possível, ir lá e
fazer, é um risco, é um negócio que tem que encarar opiniões contrárias,
mas é gratificante”, sugere.
Para Roberts, os esforços para a eliminação da violência no trato com
os animais apenas são válidos, contudo, se como seres civilizados não
usarmos a violência em todos os tipos de educação, seja com animais ou
com seres humanos. Ele cita tempos em que homens podiam bater em suas
mulheres com uma forma de submissão, e o mesmo ocorriam com as crianças.
Ele também lembra que, por séculos, foi usada a violência para os
subordinados no trabalho. “Se não quisermos ser livres da violência,
então nós podemos prosseguir usando a violência, mas com essa decisão
temos que admitir que não somos um povo civilizado”, afirma.
Fonte: g1.globo.co
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