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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS METIDAS EM CRIME DE SEQUESTROS DE CRIANÇAS ESPANHOLAS


 Famílias pedem investigação de supostos roubos de bebês durante regime franquista

Mais de 30 mil crianças podem ter sido sequestradas

Um crescente movimento popular na Espanha alega que bebês espanhóis teriam sido roubados durante a ditadura do general Franco. Até agora, os tribunais não autorizaram abertura de investigações.


Centenas de famílias estiveram reunidas em Madri nesta terça-feira (04/01) para pedir uma investigação acerca de supostos roubos de bebês, que teriam ocorrido durante o regime do general Francisco Franco (1939-1975).
Durante uma manifestação na praça Puerta Del Sol, um dos principais pontos turísticos da capital espanhola, as famílias soltaram centenas de balões para homenagear as crianças que teriam sido separadas de suas famílias durante o regime franquista.


Milhares de crianças roubadas


Os manifestantes acreditam que o regime franquista capturou os bebês na década de 1960 e que, portanto, seus filhos ou parentes não morreram, como alegaram os médicos na época, mas foram entregues a pessoas que apoiavam o governo do general.
Os balões soltos pelos familiares levavam o nome das crianças declaradas como mortas, por causas naturais, pelos funcionários dos hospitais onde os nascimentos ocorreram.

Juíz Baltasar Garzón  
Juíz Baltasar Garzón

As suspeitas sobre o desaparecimento das crianças ganharam repercussão depois da transmissão de um documentário da televisão catalã e de investigações do juiz Baltasar Garzón. Num relatório divulgado há dois anos, Garzón estima que haja mais de 30 mil casos envolvendo crianças roubadas.
Depois da sangrenta guerra civil na Espanha, instituições governamentais e religiosas passaram a usar um decreto de 1940 para obter a guarda de crianças que estavam com a "educação moral" ameaçada – em outras palavras, crianças que pertenciam a famílias opositoras ao regime.
Durante as décadas de 1940 e 1950, o Estado manteve a custódia de mais de 30 mil bebês e, de acordo com as denúncias, esses bebês teriam tido seus nomes trocados e teriam sido adotados por pessoas que apoiavam o franquismo.

"Pacientes enganados por médicos"

Uma das organizadoras da manifestação em Madri, Mar Soriano, soltou um balão cor de rosa com o nome Beatriz. "Beatriz era minha irmã que nasceu na clínica O'Donnell no dia 3 de janeiro de 1964, em Madri", relata a espanhola. Ela afirma que Beatriz foi vendida a uma família sem filhos e apoiadora do regime.
"Médicos desonestos e parteiras enganaram mães e pais vulneráveis", afirma o advogado Fernando Magan, que já tentou levar o caso à Justiça espanhola várias vezes. "Os profissionais envolvidos nos casos apontaram fatores naturais como causa das mortes e adulteraram os registros", afirma Magan.
Soriano conta que o bebê nasceu saudável, mas foi levado dos braços da mãe por funcionários do hospital, que retornaram três dias depois com a notícia de que a criança havia falecido em decorrência de uma infecção no ouvido, um problema que não é fatal.
De acordo com Soriano, os pais nunca viram o corpo do bebê. Segundo ela, os funcionários do hospital apenas disseram que cuidariam de tudo.
Ainda conforme as denúncias, as crianças não teriam sido sequestradas apenas em hospitais espanhóis, mas também em outras localidades na França, para onde os militantes de esquerda haviam fugido depois da guerra civil.
Túmulos vazios
Franco durante discurso em julho de 1938
 Franco durante discurso em julho de 1938

A suspeita de sequestros ganhou ainda mais força depois que algumas famílias descobriram que muitos túmulos onde os bebês supostamente haviam sido enterrados estavam, na verdade, vazios.
No interesse de uma transição suave para a democracia, os abusos cometidos pelo regime franquista foram varridos para debaixo do tapete. Embora a Espanha esteja lentamente apurando os abusos ocorridos no regime, o Supremo Tribunal da Espanha se recusa a acatar as denúncias trazidas pelas famílias sobre os roubos de crianças.
Em busca da verdade
A verdade é tudo o que espanhola Paloma, de pouco mais de 50 anos, gostaria de saber. A dona de casa integra a rede de 300 famílias organizada por Soriano. Ela ainda espera descobrir o paradeiro de sua filha.
"Dei à luz a uma bonita menina de 3,5 quilos, mas ela foi levada à incubadora por funcionários do hospital logo depois do nascimento", conta. De acordo com Paloma, a equipe do hospital disse que o bebê tinha morrido após um ataque cardíaco, apesar dos registros médicos não coincidirem com as características do bebê da dona de casa.
Paloma espera que os pais adotivos de sua filha tenham cuidado muito bem do bebê e tenham dado a ela uma boa educação. Ela não pensa em ter a filha de volta, mas gostaria de saber o que realmente aconteceu com o bebê, para encerrar, enfim, suas dúvidas.
Autoras: Hazel Healy/Dayse Freitas
Revisao: Soraia Vilela

Fonte: DEUSTESCHE WELLE (ALEMANHA)







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