Relatório de CPI acusa Ecad de fraudes e falta de transparência
NÁDIA GUERLENDA
DE BRASÍLIA
Após dez meses, a CPI do Senado que investiga irregularidades no Ecad,
escritório responsável pela arrecadação e distribuição de direitos
autorais, apresentou nesta terça (24) seu relatório final.
O texto acusa o Ecad e as associações que o compõem de fraudes, falta de
transparência, cobranças excessivas e falta de repasse aos artistas. O
texto, de autoria do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), será votado nesta
quinta.
A CPI começou após denúncias como a do caso "Milton Coitinho", em que um
funcionário da União Brasileira de Compositores foi acusado de usar o
nome de um motorista de ônibus para receber cerca de R$ 133 mil pelos
direitos de músicas de autoria de outros artistas.
Farias pede ao Ministério Público que indicie 15 integrantes das
associações que compõem ou compuseram o sistema Ecad pelos crimes de
falsidade ideológica, apropriação indébita, usura (agiotagem) e crime
contra a ordem econômica.
Glória Braga, presidente do Ecad, por exemplo, é acusada de três crimes:
falsidade ideológica --por ter fraudado balanços financeiros--,
apropriação indébita --por ter usado dinheiro que deveria ser dividido
entre associados para sanar um deficit-- e formação de cartel na fixação
dos valores pagos pelos direitos autorais.
"A falta de concorrência gera estruturas ultrapassadas e uma imensa
burocracia. Há anos o Ecad comemora recordes de arrecadação, mas não
diminui a taxa de administração, atualmente em 17%", afirmou o relator.
Com o presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Farias
apresentou também um projeto de lei para reformar o sistema de gestão
coletiva dos direitos autorais e criar um órgão de fiscalização do Ecad,
sob responsabilidade do Ministério da Justiça.
O projeto de lei foi elaborado em conjunto com o CTS/FGV (Centro de
Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas),
dirigido pelo professor Ronaldo Lemos.
De acordo com Lemos, que é colunista da Folha, o projeto se inspirou em legislação estrangeira e prioriza a eficiência, transparência, o uso da tecnologia e a fiscalização.
O projeto também quer incentivar a concorrência, pois prevê que o
Ministério da Justiça escolherá as entidades que julgar mais bem
preparadas. A fixação de preços, atualmente feita de forma unilateral,
será feita em conjunto com os usuários e deverá ser homologada.
"Mais importante do que as recomendações penais são as proposições, para
que a gente não tenha a necessidade, daqui a algum tempo, de fazer uma
nova CPI", encerrou o relator. Essa é a quinta vez que uma CPI investiga
denúncias de irregularidades contra o Ecad.
OUTRO LADO
O Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) afirmou, em
nota, que a CPI não identificou "qualquer irregularidade na arrecadação e
distribuição de direitos autorais que justifique o indiciamento de
dirigentes".
Segundo a nota, o Ministério Público Federal já afastou as acusações de
abuso de ordem econômica e prática de cartel na cobrança de direitos
autorais. No texto, a entidade nega ainda acusações de apropriação
indébita.
Sobre o caso Milton Coitinho, o Ecad diz ter sido vítima da fraude, ao
lado de sua associada UBC (União Brasileira de Compositores).
A reportagem entrou em contato com seis das sete associações que compõem
o Ecad e cujos representantes tiveram indiciamento pedido pela CPI
--não foi possível contatar a Assim.
Das organizações, apenas a Sicam (Sociedade Independente de Compositores
e Autores Musicais) respondeu ao contato da Folha, mas disse que só irá
se pronunciar quando for comunicada oficialmente sobre o relatório.
Fonte: FOLHA DE SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário