Lá e cá
A diferença de preços de
roupas, calçados, comidas e carros dos Estados Unidos para o Brasil é
coisa pra assustar mesmo. Parece que os ricos somos nós. O Mini cooper,
charmoso carrinho da BMW custa nos States US$ 13.600, menos de R$ 25
mil.
Em Floripa, o mesmo carro é vendido por R$ 130 mil. Uma diferença bem maior do que o tamanho do carrinho.
Fonte: Blog do Cacau Menezes
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Por que tudo custa mais caro no Brasil
Nossos preços estão entre os mais altos do mundo. Pagamos 3, 4 vezes mais por qualquer coisa. Mas o maior problema é outro: muita gente adora isso
por Pedro Burgos e Alexandre Versignassi
É tanta muamba
que o português dos vendedores de shopping da Flórida está mais afiado
do que nunca. Os brasileiros são os turistas que mais compram nos EUA:
US$ 4,8 mil por pessoa, à frente dos japoneses.
Nossos gastos no exterior em 2010 tinham passado de US$ 11 bilhões até
setembro, um recorde. Agências de turismo já oferecem pacotes sem
parques de diversão no roteiro, só com traslados para grandes shoppings e
outlets.
Estamos virando um país de contrabandistas. Natural. Veja o caso do
iPad. Aqui, nos EUA ou na Europa, ele é importado. Vem da China. Em
tese, deveria custar quase igual em todos os países, já que o frete
sempre dá mais ou menos a mesma coisa. Mas não. A versão básica custa R$
800 nos EUA. Aqui a previsão é que ele saia por R$ 1 800. No resto do
mundo desenvolvido é raro o iPad passar de R$ 1 000. E isso vale para
qualquer coisa. Numa viagem aos EUA dá para comprar um notebook que aqui
custa R$ 5 500 por R$ 2 300. Ou um videogame de R$ 500 que bate em R$ 2
mil nos supermercados daqui. E os carros, então? Um Corolla zero custa
R$ 28 mil. Reais. Aqui, sai por mais de R$ 60 mil. E ele é tão nacional
nos EUA quanto no Brasil. A Toyota fabrica o carro nos dois países.
Por que tanta diferença? Primeiro, os impostos. Quase metade do valor de
um carro (40%) vai para o governo na forma de tributos. Nos EUA são
20%. Na China também. Na Argentina, 24%. O padrão se repete com os
outros produtos. E haja tributo. Enquanto o padrão global é ter um imposto
específico para o consumo, aqui são 6 - IPI, ICMS, ISS, Cide, IOF,
Cofins. Ufa. Essa confusão abre alas para uma sandice que outros países
evitam: a cobrança de impostos em cascata. O ICMS, por exemplo, incide
sobre o Cofins e o PIS. Ou seja: você paga imposto sobre imposto que já tinha sido pago lá atrás. Tudo fica mais caro.
E quando você soma isso ao fato de que não, não somos um país rico, o
vexame é maior ainda. Levando em conta o salário médio nas metrópoles e o
preço das coisas, um sujeito de Nova York precisa trabalhar 9 horas para comprar um iPod Nano (R$ 256 lá). Nas maiores capitais do Brasil, um Nano vale 7 dias de trabalho do cidadão médio (R$ 549).
A bagunça tributária do Brasil
não é novidade. A diferença é que os efeitos dela ficam mais claros
agora, já que existem mais produtos globalizados (Corolla, iPad...) e o
real valorizado aumenta o nosso poder de compra lá fora (quando a nossa
moeda não valia nada, antes de 1994, era como se vivêssemos em outra
galáxia - não dava para fazer comparações).
Mas sozinho o imposto
não explica tudo. Outra razão importante para a disparidade de preços é
a busca por status. Mercado de luxo existe desde o Egito antigo. Mas no
nosso caso virou aberração. Tênis e roupas de marcas populares lá fora
são artigos finos nos shoppings daqui, já que a mesma calça que custa R$
150 lá fora sai por R$ 600 no Brasil.
O Smart é um carrinho de molecada na Europa, um popular. Aqui virou um
Rolex motorizado - um jeito de mostrar que você tem R$ 60 mil sobrando. O
irônico é que o preço
alto vira uma razão para consumir a coisa. Às vezes, a única razão.
Como realmente estamos ficando mais ricos (a renda per capita cresceu
20% acima da inflação nos últimos 10 anos), a demanda por produtos de
preços irreais continua forte. Os lucros que o comércio tem com eles
também. E as compras lá fora idem.
O resultado mais sombrio disso é o que os economistas chamam de doença
holandesa: o país enriquece vendendo matéria-prima e deixa de fabricar
itens sofisticados - importa tudo (ou vai passar o feriado em Miami e
volta carregado). Por isso mesmo o governo reclama da desvalorização
excessiva do dólar e do euro, que deixa tudo ainda mais barato lá fora.
Aí não há indústria que aguente.
Mas tem um outro lado aí. "É interessante ver que parte da indústria
importa bens intermediários, que são usados para fazer outros produtos. E
agora eles serão mais baratos. Então o câmbio apreciado pode ser bom",
diz o economista Carlos Eduardo Gonçalves, da USP.
O governo também tem agido contra o mal do câmbio. Em agosto, cortou
várias taxas de máquinas industriais e zerou os impostos para a
fabricação de aviões. Outros 116 bens da indústria de autopeças que não
têm similar nacional tiveram seu imposto
de importação praticamente zerado. Já é um começo. Esperamos que, em
breve, passar 9 horas no avião para comprar um laptop possa deixar de
fazer sentido. Porque é bizonho.
Quer pagar quanto?
Preços de alguns produtos no Brasil e nos EUA, em reais:
Hyundai Veracruz
EUA - R$ 48 mil
Brasil - R$ 150 mil
Playstation 3
EUA - R$ 500
Brasil - R$ 1 999
Perfume CK One 200 ml
EUA - R$ 50
Brasil - R$ 299
Carrinho de bebê Chicco
EUA - R$ 500
Brasil - R$ 1 849
Fonte: SUPERINTERESSANTE
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